sexta-feira, julho 31, 2009

Torpor

Mesmo que o rubro liquido molhasse minha boca
E seu sabor metálico e pesado invadisse meus sentidos
Permitindo a morte por fim ao meu caminho
Ainda não haveria temor em meu coração
Nem dúvida em meus pensamentos
Se há de se morrer por algo
Que seja então pela melodia prata de suas palavras
Pela seda e pelo doce de seus lábios
Ou ainda, seja pelo seu olhar que me vasculha a alma
Tão indiferente a minha sombra, a frieza de minha superfície
Não importaria honra nem tempo, tão pouco o orgulho vazio
Subjugados seriam pela plenitude de tua beleza
Grandeza de tua alma, elevação que assusta e fascina
Com um sorriso, levado seria
Pela morte escarlate, ou esmeralda
Sem questionar a abreviação de meus passos

quarta-feira, julho 29, 2009

Caos

Reclinado na cadeira, o cálice cheio sobre a mesa e o cigarro na mão, olhos fechados. A musica que escutava explicava-o muito bem, calma e agressiva. Pensava muito, não sabia ao certo sobre o que. Passado, presente ou futuro?
Bebeu um pequeno gole, abriu os olhos. Havia uma foto na tela de seu computador, olho-a demoradamente, desejou saber desenhar... outro pequeno gole, brincou com a fumaça do cigarro como seus pensamentos brincavam com ele.

segunda-feira, julho 27, 2009

Torpor

Tão certo quando a necessidade do erro
Das falsas promessas, dos falsos amores
Ou ainda, das declaracões vazias
É necessária a queda, entregar-se ao abismo
Ver-se em meio as trevas e sorrir
Entender aquilo que lhe invade a alma
Deixar-se cegar para voltar a ver
Pois se não houvesse vivido em cinza
Como teria percebido a sublime beleza
Deste desejo e torpor em esmeralda?
Sem o gosto acre das sombras
Saberia eu saborear tão simples perfeição?
Contemplar dignamente tão elevada existência?

Caos

Acendeu um cigarro, aumentou o som que era quase um sussurro. Começou pensando que as pessoas enclausuravam-se durante a vida toda, peregrinavam, iam aos confins do mundo, tudo para achar a resposta e poderem contemplar a perfeição. Começou concluindo que isso era besteira, as pessoas afastavam-se cada vez mais da resposta em suas buscas...

- Não... - Tragou...

As pessoas precisavam contemplar tudo que havia de imperfeito, incompleto, antes de poder perceber a perfeição. Como, senão tendo com que comprar, poderia alguem perceber a simplicidade de um dia perfeito? Ele apreciava o final de um dia perfeito, simples e intenso. Um dia sem novas perguntas nem respostas.
Se perguntou se deveria sentir tristeza pelo final de um dia assim, concluiu que não. Por mais que demorasse um eternidade para voltar a contemplar um momento assim, poder ver a beleza nos detalhes mais ínfimos, não poderia ficar triste mesmo diante da iminência do próximo dia comum.
Ele enclausurou-se afinal, percorreu os confins de seu mundo. Quando parecia não haver resposta, quando parecia não haver o objeto de seu desejo e procura, quando finalmente desistiu da pergunta a resposta apareceu, cristalina... obvia e fascinante.

domingo, julho 26, 2009

Destino

A noite seria mais fria, calma
A brisa, mais suave
Tudo perderia o sentido e a importância
A musica preencheria o espaço vazio
O perfume, a mão que controla o destino

Caos

Parou, pensou um pouco, suspirou com desanimo. Havia cometido um erro grave na época, perguntou-se a quanto tempo.

- Três? Quatro anos? - Não era importante saber com exatidão, mas ele sabia bem qual era o erro.

Bird and bear... Ele havia dito, com sinceridade, em tempos conturbados. A tempestade veio, alguem não podia aceitar isso. Ele desfez suas palavras, como se fosse possível, transformou sua sinceridade em mentira como se nada fosse. Perdoou o imperdoável, e recebeu pela sua flexibilidade, julgamentos rígidos. Matou e foi morto. Restou a lembrança, e o costume de dizer:

- Certo que sim... - Disse para si mesmo, gostava de repetir isso.

As coisas eram diferentes, desta vez ele sabia que não cometeria o mesmo erro. Desta vez ele não iria viajar, nem atender ligações no meio da noite. Hoje erros do passado não podiam provocar tempestades, ele cansou de provar isso... Precisava ter certeza que podia dizer o que pensava, e disse.

- Bird and bear and hare and fish, Give my love her fondest wish... - Era bobo, ele pensou, mas sincero. Diferente de muito tempo atrás, agora fazia sentido. Quantas coisas não passavam a fazer sentido somente agora...

Sorriu.

sábado, julho 25, 2009

Silêncio

Assim, no silêncio, sem fuga ou distração
Onde sombras ganhavam forma
A falta de respostas inquietava
Abria caminho para antigos vícios
Convidava seus temores para sentarem a mesa
Fazia da fraqueza sua essência
Deturpava o sentido do questionamento
Assim, no silêncio, total, ensurdecedor
As sobras definham, desfazem-se como fumaça
As respostas surgem frias, simples
Antigos vícios perdem o sentido
Os temores tornam-se tolos, ínfimos
A fraqueza fica clara
As perguntas fazem de si verdades
Certos valores permanecem intactos
E talvez seja só
E não reste espaço para os demônios
Que surgiam por traz de sua mente
Nem existam momentos em que estávamos aqui
Sem saber por que
Talvez ele nunca tenha dito as coisas certas
No momento exato
E tudo isso nada significou
Desta vez, sabemos o porque

Caos

Ele olhava para o céu e não via estrelas, isso ajudava a clarear sua mente mas não deu certo desta vez. Estava desconcentrado, um milhão de pensamentos promoviam o caos em sua mente. Dormiu, um sono agitado e leve, acordou tantas vezes com os mesmos pensamentos que desistiu.

quinta-feira, julho 23, 2009

Canção

Ha beleza na tristeza
Que transbordam seus olhos
A sinceridade e a pureza
De um sentimento simples
Da verdade sem enfeites
E dela, fiz minha tristeza
E a canção de seus olhos
Solidificou minha saudade
Nosso eterno desejo
Como um só, mesmo em dois
Ha beleza nos ínfimos detalhes
Que encantam e fascinam
Não me prendem, me libertam
Inundam meus pensamentos
E fazem dos meus sentimentos
Os teus próprios

Sincronia

Palavra, penamento
Gesto, intenção
Sincronia
Pois não ha paz aqui
Se não estiver bem ai

quarta-feira, julho 22, 2009

Som

As vezes cedo demais
Saborear o som sendo afinado
As vezes tarde demais
Contemplar a reverberação
Dar importância pra isso é perda de tempo
Deleitar-se com a logica das notas
Ha beleza, a motivação fala mais alto
Talvez a pureza seja a essência da obscuridade
Viver a culpa e perder a chama da corrupção
Somente a vibração das cordas da guitarra
Seja como for, sem apreciar a sinfonia
Por honra ou bom senso, não haverá final feliz
Que homem não teme o desperdício de seus últimos acordes dissonantes?
Somente aquele que não teme o próprio demônio
E abraça seu mal

terça-feira, julho 21, 2009

Momento

Pintaria você em luz e sombra com uma poesia de fundo, falando de todas as qualidades que te enchem de cor.

Tempo

Ela disse "nobre", ele pensou "só retribuo o que me oferece".

– Será que você vai saber o quanto penso em você... com o meu coração? – Cantou.

Riu e divagou. O tempo estava pesado, ameaçando uma tempestade, o vento soprava forte jogando folhas e poeira sobre ele. Olhando para o nada, absorto em pensamentos, ele não ligou para a selvageria atribuída pelo vento aos seus cabelos.

Ele disse "não sei e não quero ser diferente", ela pensou "nobre".

– Será que você vai saber o quanto penso em você... com o meu coração? – Cantou.

Olhou o horizonte, para as nuvens carregadas que escureceram o céu, que viajavam rápido. Seu espirito estava leve, seus pensamentos estavam calmos. O vento chegou de surpresa, arrastou um sem numero de folhas com a primeira lufada e por ali ficou.

Em algum lugar, alguém pensava no futuro e, nele nada vendo, mantinha-se calmo.

Tempo

Achou graça da resolução, ascendeu um cigarro e ficou observando o movimento.

segunda-feira, julho 20, 2009

Outono

Ela correu, suas botas faziam um som ainda mais alto no beco onde entrou.

– Filho da puta! – Exclamou ao queimar o braço no cano fumegante de uma das suas armas.

Os pentes caíram produzindo um som agudo que logo ficou para trás. Ela podia sentir o coração batendo, havia corrido muito e sua respiração estava descompassada, apesar disso sabia que não o havia despistado – Fácil demais – mas não podia se dar ao luxo de olhar para tras. Inseriu novos pentes as suas pistolas, ouviu um clique mais alto do que esperava da trava de seus carregadores. Parou.

– Cheque mate. – A voz foi fria, desprovida de qualquer emoção.

– … – Ela estava morta, não havia o que dizer. Tentou por um sorriso nos lábios em seu ultimo segundo, não pode.

Sete disparos foram ouvidos. Sete capsulas retiniram contra a parede, ainda soltando fumaça. Seis balas trespassaram a cabeça da garota, seus cabelos prateados pareceram flutuar por uma eternidade. Um projetil estilhaçou o seu maxilar. Logo apos o baque surdo, o sangue alcançou os sapatos do homem.

– Tsc... Gosto mais do seu cabelo vermelho. – Tentou achar graça, não entendia o conceito ainda, e o cabelo da moca era originalmente vermelho... a piada não teria graça de qualquer forma.

O noticiário notificou um latrocínio, ninguém questionou os múltiplos disparos.

Caos

– Você queria mesmo ser poeta? – Perguntou ela, afundando o rosto no travesseiro.

– Sim, mas eu morreria de fome. – Ele respondeu com ar divertido, enquanto tirava o cabelo do rosto.

– Bobo. – Ela retrucou enquanto puxava o braço dele.

O vento forte sibilava de modo sombrio, logo o som da chuva se fez ouvir. Estava quente, o cheiro da chuva invadiu todo o lugar com rapidez. Tão logo quanto a chuva começou, os dois riram sem dizer nada.

– Viajantes na tempestade, pode ser o próximo título. – Deixou o devaneio virar som.

– Eu gosto, sobre o que será? – Perguntou com a voz ainda abafada pelo travesseiro.

– Hum... não sei. Que tal se for sobre pessoas que foram jogadas nesse mundo, como atores sozinhos? – Perguntou olhando para ela, admirando a pele branca e macia.

– Perfeito. – Ela respondeu virando o rosto e olhando para ele, o sorriso que ele viu então limpou sua alma.

– Riders on the storm... – cantou.

A chuva seguiu forte, indiferente as coincidências que provocava. Espalhou o caos pelo resto da noite, mas não foi mais ouvida ali.

sábado, julho 18, 2009

Sentido

Das ultimas coisas que me desfiz
Então me vi perguntando quem era
Todas tiveram seu valor em algum momento
Quando a resposta não veio por mim
Mas, assim em um instante, vi-me sem entender seus significados
Busquei fora a resposta
Assim todo o caminho fez-se verde e brilhante
Como nunca antes, eu não tinha idéia
E, mesmo embrigado pela bela visão, procurei por lembranças
Não houve vazio nem tristeza, perdi-me no cinza
Contudo não pude me agarrar a elas, não as queria como antes
E do cinza contemplei todos os sons que me cercavam
E não vi sentido no que havia percorrido
Não os sons do horizonte, mas sim os do local onde estava
E tudo pareceu ter sido errado
Tudo era pálido, mas estava longe de ser frio
Dei-me conta, esta era mais uma lembrança
Queria cores, um sentido talvez
A doce mania de agarrar o passado
Mas não pude chegar a lugar nenhum
Deixei-a escorrer por entre meus dedos e molhar o chão
A pergunta pareceu desaparecer, não precisava de resposta
Talvez esse fosse o ultimo aspecto que sobrasse intacto
Havia um longo caminho a frente
E o som disto quebrando levou consigo os conceitos
Sem conceitos, cor ou planos
A melodia da guitarra pareceu pura como nunca
Me envolveu e fascinou

sexta-feira, julho 17, 2009

Caos

– Tudo certo? – Perguntou olhando o amigo.

– Existe isso? Tudo estar certo em algum momento? – Respondeu o outro tragando o cigarro e sorrindo de modo indefinível.

– Alguma coisa que queira dizer? Você me chamou aqui, achei que queria falar sobre algo. – Continuou o primeiro, com a mesma neutralidade de sempre.

– Nada de mais, não estava fazendo nada e você também... A proposito, na noite anterior, aqui, alguem me disse que as coisas não precisam acabar sempre no caos. Você acredita nisso? – Jogou no ar as palavras misturadas a fumaça do seu cigarro, fazendo um ar de mistério forçado.

– Com caos, você quer dizer o que exatamente? E quem seria esse alguem? – Perguntou sem se importar com a fumaça que o vento arrastava em sua direção.

– Caos, caos... ausência de um padrão compreensível... mas relaxe, não vou começar meu monologo habitual sobre isso. – Riu com sinceridade.

– Hum... Pode, eu acho. – Ele não havia entendido a pergunta, ficou claro. Mas ele não se preocupava em disfarçar isso, era sempre assim... Pouco importava entender o que as frases do amigo queriam dizer, bastava entender o que o amigo pensava, e isso ele sempre entendia.

– Já te disse que nunca houve uma conversa nossa que você tenha dito algo de fato? Você é a pessoa que diz mais, falando menos, que conheço. – Retorquiu tragando novamente, depois tomou um gole do copo ao lado e voltou a olhar as estrelas.

– Eu me esforço, anos de pratica! – Respondeu com um orgulho exagerado, ambos riram.

– Não, não acredito que sua falta de opinião seja pratica, você é mestre nisso. Certamente nasceu com esse dom. Passa seu copo, a garrafa esta pela metade ainda e você não me fara beber sozinho!

– Não cara, pra mim deu.

O outro sabia que seu amigo não iria beber mais, ele não mudava nunca, e talvez fosse esse o motivo de uma amizade tao clara e sincera. Ele não conseguia corromper seu amigo, e seu amigo não conseguia torna-lo mais neutro, nem melhor. Continuou divagando enquanto olhava os desenhos da fumaça de seu cigarro e ouvia o amigo falar sobre coisas mundanas, tinha tomado a decisão certa em não ter vindo sozinho, teve certeza.

Desprezo

Uma multidão não é companhia
Repugnante pode ser tornar com facilidade
Quando, como verdade, é dito que o certo é sempre justo
E me distanciou por me desejar como semelhante
Me dizendo que certos vinhos não devem ser provados
Todos os venenos matam
Certos frutos não se podem ser apreciados
Minha vontade deveria ser limitadas as alheias
Meu desejo mensurado e comedido
Minha alma amordaçada e cabisbaixa
Respondi então, desprezo
Meu egoismo me consome, e não há meio termo a multidão
Ei de deixar minhas paixões cavalgarem selvagens
Consumir-me-ao com suas chamas
Haverão de deturpar minha honra
Por outras vezes, complementar meu código
Mas nunca irão tirar o brilho dos meus olhos
Nem me causar apatia
Uma multidão que não desejo
E com ela repudio seus dogmas
E se ei de queimar no inferno que eu mesmo criei, pois outro não existe
Ei de me consumir com um sorriso nos lábios

Jardim do Abismo

"Há venenos que valem seu risco."

terça-feira, julho 14, 2009

Carvalho

Qual a palavra e qual o comando que separa os homens do paraíso?
E qual deles mantém o medo em suas almas?
Mas não me importarei se for absolvido ou condenado!
Tratarei de lutar contra os sentimentos que me prendem,
Com suas correntes de pânico
E com a bebida, destilada do sangue virgem, que me entorpece...
No paraíso dos Imortais poderei perecer
Quando, da torre primaveril ou dos salões dos mortos,
Arrancar, com toda a minha força,
Se preciso, com a minha vida, um sorriso teu.
Quando minha alma gelar, dos olhos do vigilante do norte
Saberei dos teus pensamentos nos reinos do sul.
Mas se há aqueles que estão descontentes,
Mesmo sob o sereno brilho das estrelas,
E clamam as brisas costeiras, temendo a tempestade e adorando o Sol.
Lhes darei os sombrios ventos do leste,
Que virao através do mar com a sua legião de espíritos do fogo.
Transformarão seus verdes vales em lagos sangrentos
Onde, ao contrário das torres livres do paraíso,
Ofuscarão seus frágeis olhos com a imagem do portal negro.
Nos jardins secretos de minha casa
Plantarei para você um carvalho
Mesmo sabendo que não há água, somente sangue...

Profundidade

A própria imagem do abismo
Fascinante como caminhos errados...
O som da própria mortalidade
Alem do certo e do errado
Não o destino, mas o que comanda e gera o destino
A personificação da morte ou da vida, em uma mesma essência
Prisão dos meus sentidos
O caos em minha logica
Indefinível como o tempo
Perverso e puro
Suave como a brisa
O mais puro gosto do desejo

segunda-feira, julho 13, 2009

Desire

Deverá, este deserto, em breve consumir minha alma
Em breve, silenciar meus lábios
Assim como esta tempestade silencia meu rosto
Toma minhas lagrimas como sendo suas
Haverá luz em meus olhos na próxima aurora?

Imortalidade, um momento para sempre, para a eternidade

Deverá, esta noite, silenciar o eco dos meus passos
Em breve, consumir minha dor
Serão minhas ultimas palavras, linhas mal escritas
Irrompendo do que me tornei?
Repetirei eu milhares de mentiras
E haverei de tornar minha a culpa pela insensatez da fuga

You had my best
Outside of my death way
Unless I were fed it, my only way

Jardim do Abismo

"E não ha flor mais bela no jardim do abismo, senão aquela que possui a qualidade da morte em seu perfume."

Caos

Ela olhou para o rosto dele e perguntou:

– Você se importa?

Ele desviou o olhar para as estrelas, não queria tentar sustentar o olhar dela. Após alguns instantes respondeu:

– Não... na verdade não, eu não me importo.

Ela tirou uma mecha de cabelo, que o vento jogou em sua face, e sorriu. Ele ainda era frio e ainda era distante, como se não pertencesse aquele lugar, mas ela não se importava com isso...

Cerâmica

– Não! – ele disse com veemência. Apoiando-se sobre sua bengala ele aproximou-se da mesa que exalava aquele doce perfume de madeira nobre.
– Como assim 'não'? – Ironizou o homem sentado a maior cadeira da sala. – Eu não vou aceitar uma resposta como essa, principalmente vinda de você!

O homem sentou-se, sua bengala tornava-se extremamente desconfortável em situações como esta, pigarreou e perguntou:

– O que você espera de mim, neste caso?

O homem sentado a maior cadeira sorriu, não um sorriso bonito, mas ao menos triunfante:

– Eu espero lealdade absoluta!

O outro voltou a ficar de pé, com a a ajuda de sua bengala. Ele havia conseguido, o maldito estúpido havia mordido a isca, mas não se permitiu sorrir, ainda não...

Outono

Enquanto ela corria suas botas pesadas produziam um som metálico alto, mesmo com todo o barulho de uma grande cidade ao seu redor. Ela já não sabia o que odiava mais neste momento, suas botas barulhentas ou seu cabelo prateado, brilhante.

- Merda! Eu nunca vou conseguir me misturar à multidão!

Um estampido alto, calibre 45, ela poderia reconhecer este som em qualquer lugar. E pronto, não havia mais a multidão tão normal aquele horário, havia apenas o caos.
Era a hora de fazer o jogo de seu perseguidor, ela sacou suas duas pistolas...

Caos

Ele abriu a porta, o vento frio trespassou seu corpo trazendo consigo as finas gotas de chuva que a pouco começara. Era uma noite fria, a lua brilhava escondia por detrás das nuvens carregadas que dominavam o céu desde cedo, era uma noite que trazia consigo o torpor que ele procurava.

– Proibida... – Disse ele em voz alta.

Eis a palavra que insistia em não sair de sua cabeça, era a definição do todo. Ele caminhou, deixou a chuva fina molhar seu rosto, escorrer pela sua face, seu corpo tremia, mas ele não sentia frio. Ele sabia onde iria, mas não planejava isso, apenas era arrastado.

A chuva parou há algum tempo, o céu limpava rapidamente, ele já podia ver as estrelas quando chegou. Acendeu um cigarro, e observou a fumaça desenhar o caos a sua frente.

– Caos... Tudo começa e termina no mesmo ponto. – Ele disse olhando para o céu, como se dissesse as estrelas que aumentavam em numero.
– Não... não precisa ser assim. – Disse uma voz feminina, doce e suave.

Ele não se surpreendeu em ouvir esta voz aqui, não esta noite. Sem se virar para ela, ele tragou mais uma vez, seu cigarro sempre adquiria um gosto horrível na presença dela, jogou-o no chão, enquanto ouvia o som dos tênis dela no cascalho. Virou para ela, estava ao seu lado, olhando para as mesmas estrelas que o faziam ficar vazio, frio.

– Sabia que você estaria aqui. – Ela disse sorrindo, com um ar divertido.
– Certo que sim. – Ele respondeu olhando a face dela, levemente iluminada. Seus demônios acordaram, ele não tentou impedir, era inútil... Ela sempre trazia a tempestade.
– Adoro isso. – Disse ela virando-se para ele, olhando-o nos olhos. Seu rosto exibia um sorriso sincero, seus olhos exibiam um olhar devastador, quase insustentável.

Ele não disse nada, sabia do que ela falava, passou seu braco pela cintura dela e voltou a olhar para o céu. Nada mais foi dito esta noite, não era preciso.