quarta-feira, setembro 30, 2009

Tempo

Parou a moto, não havia chegado em casa e tão pouco aquele era o caminho mais curto. Suas mãos estavam congeladas, fazia muito frio e ele não usava luvas. Não havia vento, e ele agradeceu mentalmente por isso.
Sentou no meio-fio e se deixou perder nos desenhos do pneu. Tanta coisa em tão pouco tempo, talvez fosse melhor começar a dormir tarde novamente.
Olhou a sua volta, de muitas formas, não via ninguém. Escutou vozes distantes, animadas com algo, talvez o jantar. Mas não havia ninguém, somente a rua escura de pedras molhadas e mal encaixadas. Tudo convidava-o, mas ele não aceitou. Sempre um ponto de ruptura, um limiar, e desejo.
Quando achou que já podia voltar para a moto, voltou.

terça-feira, setembro 29, 2009

Ressonante

As vezes não há nada a dizer. Eu poderia tentar com "eu não desejo ser feliz, mas verdadeiro" ou "o que acontece por amor esta além do bem e do mal", mas Nietzsche já disse essas coisas.
Hoje eu caminhei lentamente sob luz amarelada dos postes. Vi a chuva fina dançar de modo caótico ao sabor do vento, senti o vento gelado molhar meu rosto com calma, varrer o mundo da minha mente. Eu olhava para o chão e, quando conseguia me distrair da dança molhada e hipnótica, apreciava o asfalto molhado, me perdia no som dos meus passos irregulares.
Um mundo de cores simples, muito cinza. Um mundo de paixões simples e arrebatadoras, paixões que apagam o resto do mundo com um simples sopro. Tudo parecia tão certo, no lugar. Esse é meu plano de fundo, sou parte dessa paisagem e nela consigo saber exatamente quem eu sou.
Tudo faz sentido, é certo, talvez o melhor que poderia ser feito. Isso nunca será satisfatório. O "certo a fazer" nunca vai arrancar um sorriso sincero de meus lábios, eu sou torto e errado... O pior, eu sou apaixonado por isso, pelas noites de tempestade ou chuva fina, pelo frio, pelos meus modos imperfeitos. Eu sou apaixonado pela nobreza da "jóia falsa, de um charme duvidoso, sombrio" que se pronuncia em minhas palavras.
Há, invariavelmente, um sentido quase promíscuo, uma ordem ressonante, no Caos transcrito por estes dedos.

domingo, setembro 27, 2009

Dissonante

Se a música reverberava na superfície gelada
Percorreria a vastidão calma de um lago congelado
Agitaria as profundezas escuras, cinza
Faria então a luz brilhar nas bordas afiadas
De um abismo sedutor, provocante
Então a melodia seria doce, sedosa
Suave como a brisa dourada que preenche esse deserto
E faria pedaços de lembranças que não aconteceram
Como a luz que não iluminou uma alma perdida
Faria certa a sombra que se ergue sobre estes olhos
Assim como a vontade toma o controle sobre o nada
O perdão deixaria de importar, um sussurro
Deveria a paixão queimar, marcar com seus lábios
As palavras que não podem ser ditas
A meia luz, um tomar de fôlego, mas haveria piano
Seriam vistas estrelas através dos olhos que perscrutam
Essa imperfeição sombria de cores musicais, sabores sedosos
Imperfeição que tenta pintar em palavras
Luz e sombra, a tempestade que o arrasa pelo fogo
E se tudo fosse certo, se fosse claro
Nada mais seria senão o amor de uma melodia dissonante por uma poesia perfeita

sábado, setembro 26, 2009

Desire

Se não fosse pela musica que desenhava a fumaça a sua frente, talvez fosse somente o gosto acre, das lembranças cortantes, que o faria dançar sobre o que parecia a sombra do que foi. Sentiria então o coração batendo, uma batida perfeita, essência da sua imperfeição.
Seus dedos ansiavam pela textura sedosa e gelada, suave sabor do caos, que prometia um novo dia de cores e cheiros, palavras e gestos. E sua garganta ardia diante da sede por tão alva pele, pelo melodioso perfume. Precisava matar a si mesmo no vermelho d'aqueles lábios, e viver no entre corte das respirações.
Beijo, palavra, beijo, beijo e palavra. E não saberia o que fazer, mas faria com a sinceridade dos que se apaixonam pela própria frieza sombria.

Caos

Estava ali, sozinho e sem saber se gostava. Achava sublime, uma beleza peculiar e suave. Torto, áspero, mas tinha de gostar e gostava. Algo precisava ir alem da superfície, tocar sua alma. Não havia como saber o que se escondia nas sombras mais profundas se não houvesse luz. Alguém para lhe dizer o que havia abaixo do gelo, dos ventos frios e da chuva fina... alem da noite escura que se estendia em seus gestos, se pronunciava em suas palavras. Tinha de deixar e deixou. Não queria ir a lugar algum, então se deixaria levar, mas não pela inercia mórbida que o atraia para o próprio abismo, doce sedução, mas não perderia-se em si mesmo.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Melodia

Perfeita imperfeição
Doce melodia torta
Que guia minhas mãos
Traz um sorriso seguro
Dos que nada tem a perder
A aspereza dos que tudo destroem
Com um toque, um beijo
Deixando apenas um sorriso torto
Uma alma fria, sincera
Suave essência do meu veneno
A cura dos cortes que me infligi
Traz a tempestade em minha alma
E dela faz cinza o meu mundo
A névoa acolhedora
Ressonante, faz musica em meus ouvidos
E se me fiz em mil pedaços
Talvez seja simplesmente assim
Um sorriso torto, um beijo imperfeito
Uma alma segura ou somente a melodia sombria
Dos pedaços que ficam no que meu toque apaixonado procura

Caos

Quando quebrou ninguém pode ouvir, ninguém poderia ter ouvido. Não foi a primeira vez que quebrou, ele sabia como era sentir os cacos, de bordas afiadas, espalhando-se pelo chão... Ele conhecia a melodia gelada dos pedaços chocando-se uns contra os outros, partindo-se. O retinir agudo, do que havia conseguido colar desde a ultima vez que se partiu, somente ele ouviu.
Achou melhor não juntar nada desta vez, era melhor não cortar as mãos juntando pedaços, colando fragmentos. Não tinha animo, motivos, não tinha nada... Para que tentar? Deixaria como esta, espalhado pelo chão, reluzindo a luz fraca de um punhado de memorias coloridas.
Precisava do que lhe restava para se opor a inercia, olhou para traz uma ultima vez e sorriu para o que viu, mas não veria mais. Talvez devesse tirar o cabelo da cara, era incomodo, mas o vento não ajudava. Guardou o próximo sorriso para algo novo.
Então o mundo seguiu adiante.

terça-feira, setembro 22, 2009

Caos

Sentou na calçada, tentou pensar, tentou falar, tentou... Tremia, não parecia ser o frio, talvez fosse. Se tivesse unhas, teria arrancado a própria alma com elas. Se tivesse, se conseguisse pensar.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Tempestade

Tão errado quanto se pode desejar
Como um gosto metálico, salgado, profundo
Não mais do que se pode ser
Mas eu ainda olho para o céu, aprecio as estrelas
Apenas para mim, como uma chuva fina
Gelada, continua, uma doce melodia
Como uma manhã cinza
Uma perfeição torta que lhe espera a cada segundo
Desejo sem temor, a segurança cega dos tocados pelo abismo
Sincero como as notas nas marcas deixadas pelos seus lábios
Tão errado que parece certo
Nobre como uma jóia falsa, de um charme duvidoso, sombrio
E me desenho para você na esperança de me ter nos seus olhos
Mesmo que por um instante, estar alem dos meus modos errados
Das minhas palavras confiantes e imprecisas
Da profundidade labiríntica, tão gelada quanto a superfície
Consumir-me no calor que você traz, no fogo que ascende
Tão certo e perfeito, torto e dissonante
Quanto o sonho doce, musical, no qual me perco pelo seu perfume
Um torpor doce, agitado, dourado aquoso...
O veneno que mata pelo sabor do qual não se pode escapar
Se ao menos não fosse meu antídoto, que acalma minha alma
Faz o mundo assim, tão diferente... outro.

Caos

Sentiu o vento gelando suas roupas, cortando. Respirou fundo, fechou os olhos para apreciar o perfume doce que impregnava sua roupa. O perfume trouxe uma visão clara com musica, escuro, um calor agradável... Tirou o cabelo do rosto, olhou para o relógio na igreja, era tarde, subiu a rua escutando o eco dos seus passos no silencio gelado que o convidava a ficar ali ate a manha seguinte, hoje não podia.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Insight

Não que eu vá realmente desistir, mas é bom ter algo do que desistir. Veja bem, depois de desistir do que valia a pena, você começa ficar sem material convincente. Se você considerar que a arte de desistir é cercada por regras rígidas e detalhes sutis.
Por exemplo, você não pode desistir do que não vale a pena ter, por que é óbvio demais. Desistir do que vale a pena também não conta, pois é masoquismo ou leviandade no mínimo. Poucas coisas valem a pena uma desistência, e todo o ritual por traz dela.
Eu vou curtir meu momento, a indecisão. A quase certeza que não vou desistir, e a certeza que posso mudar de ideia no próximo segundo. Ou não.
E desisto. E desisto de desistir. Encare os fatos, é quase como o romantismo presente em uma serra elétrica. Rude, barulhento, mas, a seu modo, tem um charme.

domingo, setembro 13, 2009

Caos

Ele estava sentado a janela, olhava para o horizonte escuro. As nuvens no céu encobriam as estrelas, estava chovendo há alguns dias, ele gostava.
Tirou o cabelo do rosto, seus cabelos caiam levemente ate o meio das costas. Acendeu um cigarro, deixando sua atenção se dispersar nas chamas do isqueiro. Tragou e soltou o ar pesadamente, era um alivio não conseguir dormir cedo, preferia a noite, havia mais tempo para si dessa forma.
A musica tocava pelos fones de ouvido ao lado do computador, mas era clara. Trouxe imagens boas, pode sentir o cheiro mas não sabia dizer se era lembrança ou se algo ali ainda tinha algum perfume.

- O universo em uma palavra, uma voz. A vida em um beijo, em um cheiro. E o mundo então era outro. - Sussurrou para si mesmo e sorriu levemente.

Silêncio

Se fosse apenas silêncio
Mas havia a grave e melancólica melodia
A vibração da trama, pesada e opaca
Para quem sonhava
Uma sinfonia suave e complexa
Para quem despertava
Se houvesse silêncio por um instante
Sem o desejo do que se deseja
Talvez a chuva fosse somente chuva
A névoa espessa, uma fuga bem vinda
Mas não havia silêncio
Quando tudo sussurrava
Instigava os gritos, desejo
Paixão e pavor, fazendo musica
Da ténue linha ente sanidade e loucura
Tecendo o caos, como as marcas de um beijo
Fixando-se na memoria, como um perfume
Se houvesse silêncio, desejaria mais melodia
Cinza, frio... Desejaria a superfície de si mesmo

quinta-feira, setembro 10, 2009

Tempestade

E se era doce o sabor
Não havia de ser derrota
Não deveria haver um sorriso
Mas havia o sabor doce, sorriso
Sem os lábios que matavam
Somente o toque frio, apaixonado
Uma celebração a vida
Cheio de dourado, esmeralda
Em um ritmo calmo
Um suspiro, uma tranquilidade inabalável
O mundo inteiro, uma vida inteira
Palavras doces, como a chuva fina
Irresistível, como unhas vorazes
Como um rosto de linhas desenhadas
De lábios sedutores
A poesia, que se fazia por suas próprias palavras
Magnifica, ecoava pelos salões vazios
Pela superfície congelada
Como o olhar que marcava
Reclamava para si tudo, e tudo tinha

Caos

Ascendeu um cigarro, sem culpa. Caminhou lentamente, sentindo as gotas minúsculas e geladas molharem sua face. Estava escuro, cinza, silencioso... Deveria ter se importado, não devia? Não se importou. Havia muito por fazer, muitas possibilidades, um mundo inteiro.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Ressonante

Apenas o nada, gostou
O vazio que se estende reserva tudo
Um livro novo, com cheiro de velho
Uma chuva leve, um frio calmo, uma fraca luz cinza
Uma trilha sonora... melodia suave, doce e sombria
A poesia, ressonante com seu dourado aquoso
Entorpecente em sua voracidade, apaixonante
Apenas tudo, gostou

domingo, setembro 06, 2009

Inconsistência

Pequeno, escuro e profundo
Frio talvez, quente as vezes
Ou assim parecia
Torto, inegavelmente errado
Nas linhas suaves e precisas, engano
Mesmo quando algum sabor doce reverberava
Nunca totalmente bom, nem mal
Mas a intenção não basta
Quando tudo é arrastado para baixo
Ao menor toque, sempre...
A tranquilidade, da certeza
Não era nada, não tornava melhor
Talvez se lançasse as rochas da costa
Talvez, por achar que devia ser assim
Mas isso cobraria mesmo o preço de seus erros?
Poderia o mar punir sua inconsistência?
Torto e errado, frio e profundo
Mas nunca vazio

Caos

Travar, medir e suprimir alguma atitude era desconfortável. Ficava pior quando tinha de forçar uma atitude que não queria. Era como arranhar um quadro-negro, mastigar papel-alumínio. Odiava se trair dessa forma, mas parecia certo e bom. Era demasiado orgulhoso? A ponto de se sentir desconfortável quando achava que os outros não o veriam como gostaria? Ou era justo? Não importava muito para ele, não gostava e ponto.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Torpor

Sentia muito quando não sentia nada
Por estar cheio daquele vazio sufocante
Sem desejar a melodia daqueles olhos
Não sabia ser, tudo sem sentido
Sentia muito pelo sentimento cinza
Pela cor amarga em sua boca
Sem desejar a vibração de seu perfume
Não era capaz de acordar de seu sonoro torpor
Mas seu desejo tinha cor, grave
O sabor dissonante dos seus lábios rubros
E desejava a tempestade quando chovia
O suave cheiro da brisa gelada
Tao capaz de acalmar os sentimentos
De despedaçar sua alma ou fazê-la completa
Mesmo tão imperfeito, harmónico
Podia sentir o piano martelar seu peito
Embriagar a culpa, para culpar a embriaguez
Sentindo muito por sentir tanto
Por um sentimento prata, antigo e almiscarado
Molhado pela aspereza de sua alma
Pelo fogo frio de sua essência ardia
Incompleto pela dedicação cega
Sorria sem humor, mas sinceramente
Matando pela fidelidade a si
Mas o piano ainda martelava em seu peito
E seu coração ardia sob efeito do perfume apaixonado
Que insistia em embalar seu sono
Se não houvesse saída... sairia, sem sentido

Caos

Encheu a taça, e tragou. A luz pálida e fria em nada ajudava, queria concentrar-se mas estava usando meias. Sem meias, achou a musica apropriada, talvez, se fosse possível. A chuva inundava o quarto com seu cheiro verde, úmido. Se fosse dia, talvez fizesse o que era certo, mas era um cara errado e era noite. Talvez devesse parar de tentar fazer o que era certo, mas estava feliz com a chuva.

terça-feira, setembro 01, 2009

Jardim do Abismo

Mais uma vez era o som do piano
Que fazia difícil achar a música perfeita
Ou talvez o piano fosse perfeito
E a dor viesse da guitarra
Arrastando suas notas pela noite úmida
Trazendo um gosto salgado, áspero
Mas era somente a fumaça que se agitava
Com a melodia arranhando a pele
Marcando lembranças com fogo
Suave, rubra e perfumada seda, sedenta
Perfume que lhe roubava a alma
Se houvesse alma
Mas haviam estrelas e piano
Trazendo as notas frias
Regando as flores que lhe matavam
Fazendo um jardim no abismo
Doce, frio, sincero e perverso
Amou, se achou que deveria
Se não achasse, amaria
E a tempestade regou as flores
Rubras como sangue, frias como a noite
Como os lábios roubando seu sono
Sem perdão, apenas o fogo e o sorriso delicado
Fazendo da pálida vontade, a morte
Irredutível, inevitável
Se houvesse alma, mas haviam flores