terça-feira, março 23, 2010

Primórdio

Infelizmente, talvez não o desejável pior exemplo. Quando se lê em sua textura uma fragilidade latente, os efeitos implícitos de tudo que foi, com uma clareza mórbida a melodia perde o mistério. Eis então que a visão critica e aguçada cobram seu preço, mostram suas garras e com elas arranham na profundidade para a qual são empurradas inutilmente, pois o som áspero, metal sendo retorcido impiedosamente, não pode ser abafado nem mesmo pela profundeza de um lago congelado... tão pouco pela alma rasa e comum, que tenta entorpecer a si mesma com as ilusões frágeis de conquista.
E não seria, por acaso, rasa a alma que busca consentimento para embriagar-se em ignorância? Talvez somente mais um tom ressonante de tão débil sensação táctil. Como saber? Pois se todas os acordes são repercussões dos anteriores, a musica seria apenas a imitação de um original que nunca existiu, um organismo auto-suficiente criando copias para suprir a falta da fonte.
Certamente eu prefiro crer que há algo de novo, um toque, uma vibração ou perfume, que surge pela curiosidade, pelo acaso ou pela descoberta e gera suas suaves ondulações na superfície do lago. E me frustra pensar que isso seria, como de fato parece ser, somente mais uma reação. Onde foi parar a ação original, o singular e primordial ato que precede o efeito?

segunda-feira, março 15, 2010

Superfície

E não há respostas absurdas, tão pouco precisas e sensatas
Quando se olha para o passado e se pode ver as linhas com clareza absurda
Enquanto o presente mergulha nas mais densas brumas e confunde o futuro
Quando os pensamentos são agitados pela forte tempestade, fortes ventos
E as lembranças se lançam e usurpam o lugar a superfície ensolarada
Quando deveria haver o ofuscar do tempo no que, com clareza, incendeia o ódio
E um brilho do que é novo, os cheiros e sons do que é, e não somente foi
Toda deliberação se inverte, confunde e mistura com o pó, e no pó morre
Talvez como as palavras vazias que se perdem num segundo
Ou mesmo, os gestos que são esquecidos pela ausência da verdadeira beleza
Pois este é o sentimento de ver vazio o que se preencheu com tanto esforço
Por alguém que acreditava poder encher de sentimentos voláteis
Uma superfície tão imperfeita quanto a alma mais egoísta e mesquinha
E nestas pontiagudas linhas o remorso se esvai com o ultimo acorde.
A ultima marca permanece, com sua essência latejante, uma lembrança
Pois é mais fácil perder um doce e belo perfume, de linhas suaves e suaves lábios
Do que o cheiro acre, salgado e arenoso do arrependimento
Somente, por si mesmo, o erro de um sentimento trocado e nada mais

Caos

Se você conta uma mentira para si mesmo por tempo demais, você fica resistente a encarar a verdade por trás da coisa. Talvez seja resistência a jogar todo esforco, despendido para acreditar, fora... Ou talvez, simplesmente, seja a necessidade arrasadora de nao ter sido enganado por si mesmo.

domingo, março 14, 2010

Everybody Lies

"Pessoas se encontram, gostam de algo superficial, e então completam o vazio com o que quiserem acreditar.
[...] Fui eu quem foi atrás dela. Talvez estivesse somente preenchendo os vazios. Talvez... Talvez a primeira reação era a certa. Éramos apenas duas pessoas próximas e nos achamos atraentes, não deveríamos nunca ter..."

(House M.D. - 6a temp. Ep. 14 )

quinta-feira, março 11, 2010

Caos

Eu estou de boa... sério. Só queria ter algo para matar.
Apenas 0.451 polegadas... Tudo que é preciso para se estar em paz...

quarta-feira, março 10, 2010

Gone Away


And it feels...
And it feels like
Heaven's so far away!
And it stings...
Yeah it stings now!
The world is so cold...
Now that you've gone away!




Imagem: Denis Grzetic
Música: Gone Away - The Offspring

terça-feira, março 09, 2010

Contornos

O desejo mais simples, diferente das ásperas e pontiagudas palavras
Num olhar distante, nunca voltado para trás, nunca em silencio
Diferente de tão repetidas e erradas historias de mais cedo
Apenas o prazer de olhar adiante e sentir o vento livre no rosto
Sem grilhões, tão pouco possibilidades de mais escravidão
As lembranças, impressas em marcas profundas, do que não se quer mais
Agora quero apenas o suspiro, que queima pelo que esta longe
Queima pelo desejo de mais tempo, mais perto, muito mais perto
Num tempo aproveitado ao máximo, o eco das suaves linhas
Os contornos em minha memória, o cheiro em meus dedos
Um amarrador, para desejar mais tempo num lugar mais próximo
Um olhar no horizonte há dias vazio

Longe daqui

Eu tentei ser claro. Eu não sou mais uma reserva, nem desejo mais a incostância de vontades voláteis e egoístas. De amores falsos me fartei, marquei, cansei.
Quero unhas, cansei das garras, assim como eu prefiro ser tocado, não segurado. Desisti da desistência constante, passei a admirar o silencio ao invés das mentiras.
Eu tentei ser claro. O que eu quero, não esta aqui. Aqui eu não tenho nada, e nada poderia voltar a querer.

segunda-feira, março 01, 2010

Remorso

Me desprendo sem remorso, fácil assim
De coisas cheias de historia, de difíceis e intrincados caminhos
Com certa hesitação, os gritos mais agudos de um silencio de morte
Nada mais que um passo no escuro, um movimento de palavras
Talvez o um leve tremor ao som dos ecos distantes
As sombras dos fantasmas que lhe seguem, doces e delicadas duvidas
Fugido deles sem direção, tão pouco convicção
Nos mais belos erros, terríveis acertos de uma alma que parte para longe
Se não fosse pela traição de meus dedos, seria doce a verdade de meus lábios
E estes dedos traem o mais simples dos fatos, não há remorso nem consideração