terça-feira, fevereiro 16, 2010

As vezes é preciso existir

Quase sempre.

Já vou avisando, cedo assim, que este post não lhe interessa. Assim como os demais, certamente. Só quero ter um bom local para guardar uma reflexão pseudo-importante, da qual eu certamente irei rir num futuro não muito distante. Então, pela importância destinada a uma futura piada sem graça, reservo a este espaço as tortuosas (sic) linhas que se seguem, e não vão a lugar algum, como de costume.

O fato é, se fatos existissem (Nietzsche, lembra? "Não há fatos, apenas interpretações"), que foram trezentos e poucos dias muito interessantes, estimulantes e muitas vezes subversivos. E tudo iniciando pelo melhor, subversão! Uma verdadeira tempestade de fogo e raios para deixar em pedaços a frágil moral, e não há nada melhor que isso para levantar o moral de um homem!
Pense nisso, é quase um conto medieval... Tudo começa com o que deveria ser uma catástrofe, que empurra nosso protagonista (anti-herói, nada de heróis aqui, ok?) na direção de um enredo cheio de mentiras, romance, manipulação, jogos, poder, vinho e todo o conjunto necessário a qualquer filme B que se preze... Ok, faltou o sangue e morte, mas para a felicidade do nosso protagonista, foi apenas um quase.
Há algo mais estimulante, mais vivo, ou ainda, mais enaltecedor para qualquer anti-herói do que isso? Sair de seis miseráveis anos de monotonia, em meio a uma pseudo-catastrofe, e se lançar diretamente a uma trama complexa, um tanto perigosa, e excitante? Não, eu digo, não há. Ainda mais pelos espólios recolhidos, e mais importante que estes, pela bela poesia, dourada aquosa, com a qual invariavelmente ouve o deleite dos prazeres mais simples e complexos que se pode desejar num mundo como o nosso.
Eis então o primeiro ato dessa peça de segunda. E eu digo sem medo de errar, foi emocionante, a trilha sonora ainda reverbera em meus ouvidos.
E como o show deve continuar, a peça segue com um meio estranho. Sabe aqueles roteiros que parecem não fazer sentido nenhum até que chega o final, e depois do final continua sem sentido? Então...
O nosso protagonista, ainda envolvido pela trama principal, hora foge, hora procura a tempestade caótica que se fez ao seu redor, e esta atitude faz com que as coisas se acalmem e voltem a sua monotonia habitual. O caos o deixa de lado, deixando de dar o ar de sua graça a vida do intrépido anti-herói e num jorro de acontecimentos sem nexo, nem ligação, nosso herói se isola em terras ermas. Não que ele busque iluminação espiritual, tão pouco aperfeiçoamento físico, ele apenas foi jogado lá por um diretor insano e apaixonado pelo caos e complexidade.
Nosso amavelmente odiável protagonista vê a si mesmo nesse cenário entediante, por um impulso alcoolicamente corajoso ele altera suas falas e segue na direção da civilização mais próxima. Neste ponto poderia ser o fim de toda uma peça miseravelmente ótima, mas o filho da mãe tem sorte como nenhum anti-herói hollywoodiano precisa.
Aqui acaba o segundo ato, que tem um charme bem clichê: todo anti-herói que se preze precisa fazer algo que o publico não esperava, e ele fez. O terceiro ato é um misto de peça teatral escolar com curta europeu de segunda linha.
Nosso protagonista envolve-se com questões morais, aquelas discutidas por adolescentes em programas de nenhuma audiência na madrugada, e joguetes românticos ao estilo "Segundas Intenções". Tudo isso regado a muitos lances arriscados, sorte e cerveja.
No final nosso malevolamente benevolente anti-herói percebe o quão bom é estar vivo e vivendo, e que cerveja gelada é melhor do que ele achava. Nem tudo foi como ele esperava, tão pouco é, mas foi tudo muito importante de algum modo. Ele está bem, ferido (nenhum anti-herói pode sair ileso, não faz sentido), mas bem.
Eis o fim terceiro e, no momento, ultimo ato. No epilogo vocês podem assistir aos créditos (escritos em uma língua que ninguém sabe ler, para dar um charme) e ver ao fundo nosso protagonista ascender uma pira para queimar as lembranças da "santa" prostituta que encontrou em Roma, junto de sua irmã Demétria, das quais a única coisa que quer lembrar é da futilidade morta que as impregna como impregna tudo do que ele se afasta.

Como eu disse, plagiando outros, mas disse: As vezes é preciso existir... Quase sempre!

Um comentário: