segunda-feira, dezembro 28, 2009

Fogo

E me deixo embalar pela agitação melancólica do caos
Numa tentativa débil de não quebrar
Diante dos ventos gelados desta tempestade
Pois então minha alma clama pelo fogo
Atira-se selvagemente no abismo, por prazer
Apenas para sentir o vento no rosto
Para confrontar a inercia que a mantinha estática
E se há a paixão pelo que é belo
Também há a culpa de um espírito insaciável
A turbulência de uma mente incansável
Sempre desdenhosa da calmaria
Uma incansável busca pelo desagrado, incandescente e escuro
Pelas estradas molhadas pela chuva, castigadas pelo vento gelado
Essência de uma paixão que aumenta quando foge de si
Que sempre esconde uma palavra que não pode ser dita
Tão pouco quanto os desejosos gestos podem ser feitos
Nem que para isso espere até que se diga tarde demais
Tudo para esconder as sombras do gelo a própria simplicidade
Então caos, que me embala em sua agitação melancólica

Tempestade

Parou o carro sem desligar o motor, deixou a musica fazer seu papel... deixou-a dizer o que havia para ser dito, e ela disse. Desejou profundamente ter as resposta corretas, mas nao tinha e teria de lidar com com a falta delas e lidou. As vezes é melhor nao ter ajuda para errar, ele sabia.

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Paixão

E me apaixono, simplesmente, furiosamente amo
E busco, pois não há perfume mais delicado
Tão pouco beleza mais sublime que o sabor do que é livre
Me entrego as sedosas linhas que desenham o caos
A melodiosa canção do que me fascina
E não busco motivo senão o próprio querer
Nem desejo mais do que apenas me deixar fascinar
Fazer do meu espírito livre o que ele bem entender
Seja viajar pelo desenho impetuoso de seus lábios
Ou cavalgar livremente ao som da melodia de sua voz
E há sinceridade nessa simplicidade controversa
O mais puro desejo de contemplar o que me é belo
O que queima minha alma com o desejo de vento no rosto
E sorrio porque vejo um jardim no mais profundo abismo
Posso sentir esse perfume colorido na mais densa escuridão
E nada mais importa senão o sentido que encontro nessa arte
Perfeita poesia que não pode ser descrita em qualquer traço
Apenas preenche minha alma, do caos faz tempestade
Da tempestade faz canção, um sorriso

Amanhecer

Ele parou o carro, manteve o motor ligado e ascendeu um cigarro, diminuiu o volume da musica e olhou para o céu. Não sabia dizer a quanto desejava isso, tão pouco sabia porque havia demorado tanto para fazer.
O sol estava nascendo, ainda não era visível, tingia as nuvens de vermelho, exatamente como estava sua alma nesse momento. Apenas o piano, a guitarra, o vento e o motor. Tragou, esvaziou a mente, e seguiu em frente.

terça-feira, dezembro 15, 2009

Silêncio

Da vastidão branca, um passo, um gesto
Na procura por mim, o conhecido vazio
A paixão pelo reflexo ondulante
Senão pela própria superfície do lago
E se faz a decadência por estes modos tortos
Deixando a luz desaparecer ao longe
Altivo amor pelo desagrado, silencio
E gravei em meias palavras o que não sei dizer
Apenas pela vontade de descobrir o que pensar
Num anoitecer sem lua, uma chuva sem vento
Somente os passos para fazer meus demónios fugirem
Deitado sob este céu quebrado eu soube a verdade
Somente um altivo amor pelo desagrado, melodia

Caos

Abriu os olhos, a musica dizia tudo sem precisar dizer nada. A fumaça parecia dançar o ritmo, um caos ponderado, uma calma violenta. Ele não queria ser o herói do dia, e não era.

segunda-feira, dezembro 07, 2009

Canção e Silêncio

Somente mais uma fuga sem convicção
Para perto desta beleza musical
O suficiente para que o perfume cegue
Personifique toda dor em uma palavra
Essência das mais belas lembranças
Na sombra dos mais sinceros sorrisos
Da vontade que se perde em meio as flores
O mais perfeita morte, a promessa de uma vida
Perdida entre os erros sinuosos
Somente uma alma vagando entre linhas
Uma poesia imperfeita, um sentido profundo
Simplesmente mais uma destas palavras, melodia
E não deveriam ser os mesmos, nem ecos dos meus passos
Somente canção, um gesto, então silêncio...

Caos

Ela disse que aquilo não havia sido legal, ele discordou. Ele achava legal, toda a subjectividade, as palavras não ditas, a vontade. E era diferente agora, o ar ficava pesado, precisava lembrar de respirar, as palavras todas pareciam artificiais. Talvez fossem, ele precisa pensar em cada palavra, media cada passo, um verdadeiro campo minado, um clima estranho... Provavelmente porque coisas demais haviam acontecido. Ele não era só um cara, ela não era só uma garota... nunca seriam.
O amigo perguntou, a resposta foi óbvia, e ele já sabia como de costume. E isso fazia falta, alguém para quem fosse óbvio tudo que ele poderia dizer, alguém que mesmo assim perguntaria sempre.
Ele gostava de poucas pessoas, poucas mesmo, mas gostava muito destas poucas. O suficiente para se colocar em situações onde precisava lembrar de respirar.

domingo, dezembro 06, 2009

Fogo

Das notas suaves, constantes
Doce melodia que desperta minha alma
Se fez o ritmo para minha tempestade
Desenhada em palavras imperfeitas
Sem as cores que inundam meus olhos
Sempre procurando seu olhar
A certeza de um erro desejado
Para preencher o vazio com duvida e caos
Como um monte de fantasmas sem rumo
Correndo sem fim para lugar nenhum
Mas ainda ha beleza e nela me agarro
No sabor, no vicio, pelo que incendeia o desejo

Tempestade

As vezes tudo se torna tão confuso que ate mesmo o óbvio parece escapar. E se existe maneira melhor de fugir de fantasmas, que negar a própria sinceridade, eu não a conheço... E eh ai que se esconde a verdade irónica que há em tudo, ser sincero eh sempre pior para si do que para qualquer outro. Quem pode verdadeiramente negar o que sabe? Por quanto tempo?
As vezes eu olho para mim e não gosto do que vejo. Essa imperfeição, essa distancia de tudo que quero, os gestos, as palavras, tudo tão impreciso. Mas há algo de bom nisso, me faz lembrar que eu ainda sinto algo, da mesma forma como as coisas de que gosto, como meu vicio por perguntas, minha sede por respostas... em um mundo onde as perguntas pouco importam, e as respostas são irrelevantes, vazias. Eu vejo um lugar onde as pessoas vivem pelas suposições, e elas são suficientes para alimentar seu bem-estar egoísta e pequeno.
Tantas pessoas parecem viver sem precisar de um sentido, sem precisar de nada maior que as pequenas preocupações diárias. Eu não entendo a diferença, e por mais que eu procure, não encontro uma boa resposta.

domingo, novembro 22, 2009

Caos

Viajava com frequência, os poucos amigos e jeito reservado, sempre tinha muito tempo para pensar.E mesmo assim, mesmo tendo muito tempo para passar consigo, para pensar, não consegui chegar a uma conclusão. Havia muito tempo que não experimentava alguns dias de quietude, sempre havia um tempestade em seu interior, um tempestade sem nome ou forma, algo que não conseguia resolver, e isso tornava tudo inconstante demais, o humor, as musicas, tudo se agitava conforme a tempestade.
No final das contas acabou repetindo para si parte de um livro que havia lido, o destino eh tudo, e as três fiandeiras estão rindo da minha insolência.
Tragou, aumentou o som e sorriu, era simples.

domingo, novembro 15, 2009

Tellurian

Olhou a sua volta, sabia que possuía a resposta mas ela não lhe ocorria. Ele imaginava os motivos, sabia os motivos, talvez. Mesmo assim, ficou feliz por ser apenas uma ideia recorrente, poderia ser um plano e isso seria pior.
Fumou o ultimo cigarro da noite, ou manha, pensando no que devia pensar, e sabia que fazia isso para não pensar em nada.... somente na melodia que saia pelos fones. A voz doce que o afastava do abismo, mas jogava em uma escuridão cega.
Soltou os cabelos na metade do cigarro, estava cansado de muitas formas.

domingo, novembro 08, 2009

Fogo

Abriu os olhos devagar, voltando aos poucos a realidade. Estava apoiado na parede de um dos blocos da faculdade, um cigarro aceso, musica no mp3 e um sentimento incomodo. Observou as pessoas passarem de um bloco a outro, pareciam sempre tão diferentes. Andou pelo caminho lateral sob as árvores, olhando para o chão, sentindo o esmagar das folhas secas em baixo do All Star, ouvindo uma musica calma, suave.
Deitou-se em um dos bancos, estava cansado de tantas coisas, tentava apenas achar um canto da sua mente que estivesse em paz, quando sentiu o celular vibrar em seu bolso. O que costumava lhe fazer sorrir sozinho, agora lhe lembrava tão claramente por que estava desta forma, ali. Respondeu sem se dar conta, havia um numero que queria ter, havia uma mensagem que queria poder mandar...
Sete anos desejando dizer um "sinto muito", um desculpa que não vale de nada, que não deixaria nada melhor, mas queria poder dizer algo. Queria poder dizer para a garota de cabelos vermelhos que simplesmente sentia muito.
Tragou sentindo o rosto molhar, talvez fosse a chuva, não fazia diferença.

Caos

Ele escolheu aquela musica que não parava de ouvir, deixou a voz suave entrar em sua cabeça... Fechou os olhos, fingiu que ela estava ali cantando para ele e riu da ideia. Tao logo o riso apareceu, morreu na forma de um suspiro. Estava sinceramente cansado, cansado demais para não ligar, para tentar entender qualquer coisa, estava cansado de tentar ser justo.
Não tinha ideia do que fazer, faria qualquer coisa, mas não tentaria mais explicar-se para quem não estava interessado em nada além da própria opinião sobre ele.
Se perguntou mais uma vez se não havia mais ninguém no mundo que não achasse que poderia entender tudo sobre ele sem ao menos lhe perguntar um "por que". Nem mesmo ele entendia tudo sobre si mesmo, como alguém poderia ser tão pretensioso a ponto de achar que entende? Deixou a raiva fluir com a musica...

sexta-feira, novembro 06, 2009

Decode

E olhou para traz, viu aqueles belos cabelos dançando ao sabor do vento, se afastando. Sabia que devia sentir algo, sabia que sentia, mas não sabia o que era, não percebia. E nada, ninguém, poderia dizer o que se passava em sua cabeça... Só sabia que devia sentir algo, não pelo dia que passou, mas por todos eles.
E quando cantou "Sempre estar lá, e ver ele voltar. Não era mais o mesmo, mas estava em seu lugar", disse muito mais que isso para si mesmo, para todos que estavam ocupados demais com outra coisa.
Desviou o olhar, a paisagem era um cinza azulado, uma imensidão vazia e bela.

sexta-feira, outubro 23, 2009

Beijos Violentos

E na frieza sincera que acalma minha alma
Jaz a tempestade de fogo em meus lábios
A própria contradição dos extremos, em uma dança sensual
Doce, acida melodia que faz ritmo para meus passos
Da total escuridão, certa incerteza, transborda esta segurança incauta
E me entrego ao vicio deste sabor musical, dourado aquoso
Me queima em beijos violentos, corrompe com esta paixão sublime
Me prende e arranha com um olhar devastador, essência do que é belo
Na frieza sincera da minha alma, ela faz tempestade

quarta-feira, outubro 21, 2009

A Torre Negra

"Ela se afastou ligeira. Roland ficou parado ao lado do estribo de Rusher, vendo-a se distanciar. E mesmo depois de Susan desaparecer no horizonte, ele continuou olhando."
(A Torre Negra: Mago e Vidro, vol. IV, pag. 347)

segunda-feira, outubro 19, 2009

Caos

Olhou ao redor, estava escuro e calmo, mas não silencioso... Escutava o zunido, baixo e constante, dos pequenos ventiladores que resfriavam o computador. A tela emitia uma luz fraca que dançava segundo as imagens do jogo aberto, na mesa a luz azul do mouse iluminava a xícara de café.
Ascendeu um cigarro sentindo os movimentos limitados pelo protetor do pulso e o peso dos fones de ouvido.
Sorriu de um modo simples, estava tudo no seu lugar de alguma forma, mesmo que estivesse tudo errado.

quinta-feira, outubro 15, 2009

Abismo

Do suave sabor que se fazem as trevas
Um convite para o abismo
Deixou-se perder no doce toque
Nas palavras precisas, de uma voz melodiosa
Uma brisa gelada na noite escura
Como a clareza de um sono profundo, um sorriso
Um torpor para os vícios mais profundos
Melodia para afastar a certeza de um final incerto
O meio que justifica qualquer fim
Se desfazem os arrependimentos em certezas sombrias
A segurança para sorrir à face do erro
O mais valioso acerto
E se no eco dos meus passos eu passo a escutar
O perfume de um jardim do abismo no seu hálito
Ou o sabor dourado nos seus lábios vorazes
Então meu desejo queima inquieto pelo próximo toque
Pelo próximo segundo em que tais olhos vasculham minha alma
Com uma paixão profunda e pronunciada
Pelo próximo toque da sua pele quente
Então o mundo é outro e nada mais importa

Caos

Assim que a musica começou a tocar ele sorriu de modo malicioso. De um extremo a outro em um segundo, ele conhecia os gatilhos para cada um.
Passos na noite escura, pôs um cigarro na boca e virou a cabeça para lançar um ultimo olhar, um meio sorriso. Ele não poderia ver, mas sabia que seria visto. Um meio sorriso para quem importa, e o cheiro de abismo impregnou o ar a sua volta.

sábado, outubro 10, 2009

Caos

Abriu os olhos, o sol estava alto. Seu primeiro pensamento claro foi uma lembrança.
Estar sentado meio jogado, subir os lábios pelo pescoço dela lentamente, sentindo o perfume e a pele macia, sentir o cheiro dos cabelos, beijar sua orelha e descer para o queixo...
O segundo pensamento foi uma pergunta, clara e ressonante "onde você estava escondida até agora?". Sorriu, um meio sorriso finalmente, tudo sempre é uma questão de tempo.

sexta-feira, outubro 02, 2009

Apreço

Simplicidade, uma resposta sincera
Em linhas bem desenhadas
A perfeicão de um sorriso musical
De belas palavras, profundidade
E fez a luz, doce sinfonia
O sentido na ponta dos dedos
Em um toque suave, sinceridade inevitavel
Um caminho pelo olhar de uma alma melodiosa
Uma complexidade colorida
Moldura para esses lábios de beleza sem medida
Se nao pela inevitabilidade do desejo
Entao por um sentimento concreto
Simples, sincero, puro e verdadeiro

quarta-feira, setembro 30, 2009

Tempo

Parou a moto, não havia chegado em casa e tão pouco aquele era o caminho mais curto. Suas mãos estavam congeladas, fazia muito frio e ele não usava luvas. Não havia vento, e ele agradeceu mentalmente por isso.
Sentou no meio-fio e se deixou perder nos desenhos do pneu. Tanta coisa em tão pouco tempo, talvez fosse melhor começar a dormir tarde novamente.
Olhou a sua volta, de muitas formas, não via ninguém. Escutou vozes distantes, animadas com algo, talvez o jantar. Mas não havia ninguém, somente a rua escura de pedras molhadas e mal encaixadas. Tudo convidava-o, mas ele não aceitou. Sempre um ponto de ruptura, um limiar, e desejo.
Quando achou que já podia voltar para a moto, voltou.

terça-feira, setembro 29, 2009

Ressonante

As vezes não há nada a dizer. Eu poderia tentar com "eu não desejo ser feliz, mas verdadeiro" ou "o que acontece por amor esta além do bem e do mal", mas Nietzsche já disse essas coisas.
Hoje eu caminhei lentamente sob luz amarelada dos postes. Vi a chuva fina dançar de modo caótico ao sabor do vento, senti o vento gelado molhar meu rosto com calma, varrer o mundo da minha mente. Eu olhava para o chão e, quando conseguia me distrair da dança molhada e hipnótica, apreciava o asfalto molhado, me perdia no som dos meus passos irregulares.
Um mundo de cores simples, muito cinza. Um mundo de paixões simples e arrebatadoras, paixões que apagam o resto do mundo com um simples sopro. Tudo parecia tão certo, no lugar. Esse é meu plano de fundo, sou parte dessa paisagem e nela consigo saber exatamente quem eu sou.
Tudo faz sentido, é certo, talvez o melhor que poderia ser feito. Isso nunca será satisfatório. O "certo a fazer" nunca vai arrancar um sorriso sincero de meus lábios, eu sou torto e errado... O pior, eu sou apaixonado por isso, pelas noites de tempestade ou chuva fina, pelo frio, pelos meus modos imperfeitos. Eu sou apaixonado pela nobreza da "jóia falsa, de um charme duvidoso, sombrio" que se pronuncia em minhas palavras.
Há, invariavelmente, um sentido quase promíscuo, uma ordem ressonante, no Caos transcrito por estes dedos.

domingo, setembro 27, 2009

Dissonante

Se a música reverberava na superfície gelada
Percorreria a vastidão calma de um lago congelado
Agitaria as profundezas escuras, cinza
Faria então a luz brilhar nas bordas afiadas
De um abismo sedutor, provocante
Então a melodia seria doce, sedosa
Suave como a brisa dourada que preenche esse deserto
E faria pedaços de lembranças que não aconteceram
Como a luz que não iluminou uma alma perdida
Faria certa a sombra que se ergue sobre estes olhos
Assim como a vontade toma o controle sobre o nada
O perdão deixaria de importar, um sussurro
Deveria a paixão queimar, marcar com seus lábios
As palavras que não podem ser ditas
A meia luz, um tomar de fôlego, mas haveria piano
Seriam vistas estrelas através dos olhos que perscrutam
Essa imperfeição sombria de cores musicais, sabores sedosos
Imperfeição que tenta pintar em palavras
Luz e sombra, a tempestade que o arrasa pelo fogo
E se tudo fosse certo, se fosse claro
Nada mais seria senão o amor de uma melodia dissonante por uma poesia perfeita

sábado, setembro 26, 2009

Desire

Se não fosse pela musica que desenhava a fumaça a sua frente, talvez fosse somente o gosto acre, das lembranças cortantes, que o faria dançar sobre o que parecia a sombra do que foi. Sentiria então o coração batendo, uma batida perfeita, essência da sua imperfeição.
Seus dedos ansiavam pela textura sedosa e gelada, suave sabor do caos, que prometia um novo dia de cores e cheiros, palavras e gestos. E sua garganta ardia diante da sede por tão alva pele, pelo melodioso perfume. Precisava matar a si mesmo no vermelho d'aqueles lábios, e viver no entre corte das respirações.
Beijo, palavra, beijo, beijo e palavra. E não saberia o que fazer, mas faria com a sinceridade dos que se apaixonam pela própria frieza sombria.

Caos

Estava ali, sozinho e sem saber se gostava. Achava sublime, uma beleza peculiar e suave. Torto, áspero, mas tinha de gostar e gostava. Algo precisava ir alem da superfície, tocar sua alma. Não havia como saber o que se escondia nas sombras mais profundas se não houvesse luz. Alguém para lhe dizer o que havia abaixo do gelo, dos ventos frios e da chuva fina... alem da noite escura que se estendia em seus gestos, se pronunciava em suas palavras. Tinha de deixar e deixou. Não queria ir a lugar algum, então se deixaria levar, mas não pela inercia mórbida que o atraia para o próprio abismo, doce sedução, mas não perderia-se em si mesmo.

quinta-feira, setembro 24, 2009

Melodia

Perfeita imperfeição
Doce melodia torta
Que guia minhas mãos
Traz um sorriso seguro
Dos que nada tem a perder
A aspereza dos que tudo destroem
Com um toque, um beijo
Deixando apenas um sorriso torto
Uma alma fria, sincera
Suave essência do meu veneno
A cura dos cortes que me infligi
Traz a tempestade em minha alma
E dela faz cinza o meu mundo
A névoa acolhedora
Ressonante, faz musica em meus ouvidos
E se me fiz em mil pedaços
Talvez seja simplesmente assim
Um sorriso torto, um beijo imperfeito
Uma alma segura ou somente a melodia sombria
Dos pedaços que ficam no que meu toque apaixonado procura

Caos

Quando quebrou ninguém pode ouvir, ninguém poderia ter ouvido. Não foi a primeira vez que quebrou, ele sabia como era sentir os cacos, de bordas afiadas, espalhando-se pelo chão... Ele conhecia a melodia gelada dos pedaços chocando-se uns contra os outros, partindo-se. O retinir agudo, do que havia conseguido colar desde a ultima vez que se partiu, somente ele ouviu.
Achou melhor não juntar nada desta vez, era melhor não cortar as mãos juntando pedaços, colando fragmentos. Não tinha animo, motivos, não tinha nada... Para que tentar? Deixaria como esta, espalhado pelo chão, reluzindo a luz fraca de um punhado de memorias coloridas.
Precisava do que lhe restava para se opor a inercia, olhou para traz uma ultima vez e sorriu para o que viu, mas não veria mais. Talvez devesse tirar o cabelo da cara, era incomodo, mas o vento não ajudava. Guardou o próximo sorriso para algo novo.
Então o mundo seguiu adiante.

terça-feira, setembro 22, 2009

Caos

Sentou na calçada, tentou pensar, tentou falar, tentou... Tremia, não parecia ser o frio, talvez fosse. Se tivesse unhas, teria arrancado a própria alma com elas. Se tivesse, se conseguisse pensar.

segunda-feira, setembro 21, 2009

Tempestade

Tão errado quanto se pode desejar
Como um gosto metálico, salgado, profundo
Não mais do que se pode ser
Mas eu ainda olho para o céu, aprecio as estrelas
Apenas para mim, como uma chuva fina
Gelada, continua, uma doce melodia
Como uma manhã cinza
Uma perfeição torta que lhe espera a cada segundo
Desejo sem temor, a segurança cega dos tocados pelo abismo
Sincero como as notas nas marcas deixadas pelos seus lábios
Tão errado que parece certo
Nobre como uma jóia falsa, de um charme duvidoso, sombrio
E me desenho para você na esperança de me ter nos seus olhos
Mesmo que por um instante, estar alem dos meus modos errados
Das minhas palavras confiantes e imprecisas
Da profundidade labiríntica, tão gelada quanto a superfície
Consumir-me no calor que você traz, no fogo que ascende
Tão certo e perfeito, torto e dissonante
Quanto o sonho doce, musical, no qual me perco pelo seu perfume
Um torpor doce, agitado, dourado aquoso...
O veneno que mata pelo sabor do qual não se pode escapar
Se ao menos não fosse meu antídoto, que acalma minha alma
Faz o mundo assim, tão diferente... outro.

Caos

Sentiu o vento gelando suas roupas, cortando. Respirou fundo, fechou os olhos para apreciar o perfume doce que impregnava sua roupa. O perfume trouxe uma visão clara com musica, escuro, um calor agradável... Tirou o cabelo do rosto, olhou para o relógio na igreja, era tarde, subiu a rua escutando o eco dos seus passos no silencio gelado que o convidava a ficar ali ate a manha seguinte, hoje não podia.

quarta-feira, setembro 16, 2009

Insight

Não que eu vá realmente desistir, mas é bom ter algo do que desistir. Veja bem, depois de desistir do que valia a pena, você começa ficar sem material convincente. Se você considerar que a arte de desistir é cercada por regras rígidas e detalhes sutis.
Por exemplo, você não pode desistir do que não vale a pena ter, por que é óbvio demais. Desistir do que vale a pena também não conta, pois é masoquismo ou leviandade no mínimo. Poucas coisas valem a pena uma desistência, e todo o ritual por traz dela.
Eu vou curtir meu momento, a indecisão. A quase certeza que não vou desistir, e a certeza que posso mudar de ideia no próximo segundo. Ou não.
E desisto. E desisto de desistir. Encare os fatos, é quase como o romantismo presente em uma serra elétrica. Rude, barulhento, mas, a seu modo, tem um charme.

domingo, setembro 13, 2009

Caos

Ele estava sentado a janela, olhava para o horizonte escuro. As nuvens no céu encobriam as estrelas, estava chovendo há alguns dias, ele gostava.
Tirou o cabelo do rosto, seus cabelos caiam levemente ate o meio das costas. Acendeu um cigarro, deixando sua atenção se dispersar nas chamas do isqueiro. Tragou e soltou o ar pesadamente, era um alivio não conseguir dormir cedo, preferia a noite, havia mais tempo para si dessa forma.
A musica tocava pelos fones de ouvido ao lado do computador, mas era clara. Trouxe imagens boas, pode sentir o cheiro mas não sabia dizer se era lembrança ou se algo ali ainda tinha algum perfume.

- O universo em uma palavra, uma voz. A vida em um beijo, em um cheiro. E o mundo então era outro. - Sussurrou para si mesmo e sorriu levemente.

Silêncio

Se fosse apenas silêncio
Mas havia a grave e melancólica melodia
A vibração da trama, pesada e opaca
Para quem sonhava
Uma sinfonia suave e complexa
Para quem despertava
Se houvesse silêncio por um instante
Sem o desejo do que se deseja
Talvez a chuva fosse somente chuva
A névoa espessa, uma fuga bem vinda
Mas não havia silêncio
Quando tudo sussurrava
Instigava os gritos, desejo
Paixão e pavor, fazendo musica
Da ténue linha ente sanidade e loucura
Tecendo o caos, como as marcas de um beijo
Fixando-se na memoria, como um perfume
Se houvesse silêncio, desejaria mais melodia
Cinza, frio... Desejaria a superfície de si mesmo

quinta-feira, setembro 10, 2009

Tempestade

E se era doce o sabor
Não havia de ser derrota
Não deveria haver um sorriso
Mas havia o sabor doce, sorriso
Sem os lábios que matavam
Somente o toque frio, apaixonado
Uma celebração a vida
Cheio de dourado, esmeralda
Em um ritmo calmo
Um suspiro, uma tranquilidade inabalável
O mundo inteiro, uma vida inteira
Palavras doces, como a chuva fina
Irresistível, como unhas vorazes
Como um rosto de linhas desenhadas
De lábios sedutores
A poesia, que se fazia por suas próprias palavras
Magnifica, ecoava pelos salões vazios
Pela superfície congelada
Como o olhar que marcava
Reclamava para si tudo, e tudo tinha

Caos

Ascendeu um cigarro, sem culpa. Caminhou lentamente, sentindo as gotas minúsculas e geladas molharem sua face. Estava escuro, cinza, silencioso... Deveria ter se importado, não devia? Não se importou. Havia muito por fazer, muitas possibilidades, um mundo inteiro.

quarta-feira, setembro 09, 2009

Ressonante

Apenas o nada, gostou
O vazio que se estende reserva tudo
Um livro novo, com cheiro de velho
Uma chuva leve, um frio calmo, uma fraca luz cinza
Uma trilha sonora... melodia suave, doce e sombria
A poesia, ressonante com seu dourado aquoso
Entorpecente em sua voracidade, apaixonante
Apenas tudo, gostou

domingo, setembro 06, 2009

Inconsistência

Pequeno, escuro e profundo
Frio talvez, quente as vezes
Ou assim parecia
Torto, inegavelmente errado
Nas linhas suaves e precisas, engano
Mesmo quando algum sabor doce reverberava
Nunca totalmente bom, nem mal
Mas a intenção não basta
Quando tudo é arrastado para baixo
Ao menor toque, sempre...
A tranquilidade, da certeza
Não era nada, não tornava melhor
Talvez se lançasse as rochas da costa
Talvez, por achar que devia ser assim
Mas isso cobraria mesmo o preço de seus erros?
Poderia o mar punir sua inconsistência?
Torto e errado, frio e profundo
Mas nunca vazio

Caos

Travar, medir e suprimir alguma atitude era desconfortável. Ficava pior quando tinha de forçar uma atitude que não queria. Era como arranhar um quadro-negro, mastigar papel-alumínio. Odiava se trair dessa forma, mas parecia certo e bom. Era demasiado orgulhoso? A ponto de se sentir desconfortável quando achava que os outros não o veriam como gostaria? Ou era justo? Não importava muito para ele, não gostava e ponto.

quinta-feira, setembro 03, 2009

Torpor

Sentia muito quando não sentia nada
Por estar cheio daquele vazio sufocante
Sem desejar a melodia daqueles olhos
Não sabia ser, tudo sem sentido
Sentia muito pelo sentimento cinza
Pela cor amarga em sua boca
Sem desejar a vibração de seu perfume
Não era capaz de acordar de seu sonoro torpor
Mas seu desejo tinha cor, grave
O sabor dissonante dos seus lábios rubros
E desejava a tempestade quando chovia
O suave cheiro da brisa gelada
Tao capaz de acalmar os sentimentos
De despedaçar sua alma ou fazê-la completa
Mesmo tão imperfeito, harmónico
Podia sentir o piano martelar seu peito
Embriagar a culpa, para culpar a embriaguez
Sentindo muito por sentir tanto
Por um sentimento prata, antigo e almiscarado
Molhado pela aspereza de sua alma
Pelo fogo frio de sua essência ardia
Incompleto pela dedicação cega
Sorria sem humor, mas sinceramente
Matando pela fidelidade a si
Mas o piano ainda martelava em seu peito
E seu coração ardia sob efeito do perfume apaixonado
Que insistia em embalar seu sono
Se não houvesse saída... sairia, sem sentido

Caos

Encheu a taça, e tragou. A luz pálida e fria em nada ajudava, queria concentrar-se mas estava usando meias. Sem meias, achou a musica apropriada, talvez, se fosse possível. A chuva inundava o quarto com seu cheiro verde, úmido. Se fosse dia, talvez fizesse o que era certo, mas era um cara errado e era noite. Talvez devesse parar de tentar fazer o que era certo, mas estava feliz com a chuva.

terça-feira, setembro 01, 2009

Jardim do Abismo

Mais uma vez era o som do piano
Que fazia difícil achar a música perfeita
Ou talvez o piano fosse perfeito
E a dor viesse da guitarra
Arrastando suas notas pela noite úmida
Trazendo um gosto salgado, áspero
Mas era somente a fumaça que se agitava
Com a melodia arranhando a pele
Marcando lembranças com fogo
Suave, rubra e perfumada seda, sedenta
Perfume que lhe roubava a alma
Se houvesse alma
Mas haviam estrelas e piano
Trazendo as notas frias
Regando as flores que lhe matavam
Fazendo um jardim no abismo
Doce, frio, sincero e perverso
Amou, se achou que deveria
Se não achasse, amaria
E a tempestade regou as flores
Rubras como sangue, frias como a noite
Como os lábios roubando seu sono
Sem perdão, apenas o fogo e o sorriso delicado
Fazendo da pálida vontade, a morte
Irredutível, inevitável
Se houvesse alma, mas haviam flores

domingo, agosto 30, 2009

Caos

Ele pegou os cigarros, a carteira e as chaves de casa. Carro ou moto? Carro, era mais rápido e ele queria musica. Achou as chaves do carro e calçou o all star.
Se perguntou por quanto tempo ele poderia dirigir sem ter de voltar. O que faria depois? Odiava voltar, mas era melhor voltar de algum lugar do que estar ali o tempo todo.
Quando você percebe que precisa pisar fundo para se sentir bem por um minuto, geralmente alguma coisa esta errada.
Para onde? Não importava, qualquer lugar serve quando você não tem para onde ir.

Caos

Acendeu o cigarro pensando que devia parar de fumar.

- Vai adiantar parar agora? - Pensou em voz alta. A pergunta tinha duas respostas diferentes ele sabia.

- Não e provavelmente não - Ele respondeu para as duas coisas.

Era tarde e ele não tinha sono, sua mente estava alerta demais. O dia havia sido imensamente melhor que o anterior, ele não tinha duvidas, mesmo assim ainda não via nada a frente. As pessoas se apegam a ilusões para tornar o mundo mais fácil, porque ele não podia também? Ele não soube responder porque ele não conseguia ser um pouquinho mais comum.
As pessoas esqueciam facilmente, abandonavam facilmente, se enganavam facilmente. O que havia de errado afinal? Ele queria poder se iludir ou esquecer, o máximo que conseguia fazer era tornar as coisas nubladas por um tempo, uma noite talvez, depois tudo parecia pior. O que resta?

- Se não pode ser morto sozinho, se não pode ser esquecido, se não pode ser diminuído, se não pode ser afastado da minha mente... o que fazer? - Seguir em frente com isso era o que ele estava fazendo, e ele não estava mais conseguindo fazer isso. Algo teria de ser feito, cedo ou tarde. Seria cedo pelo que ele podia perceber.

As opções eram óbvias, mas nenhuma era boa e nenhuma resolveria o problema... A única que resolveria o problema tinha maiores chances de criar outros e isso tornaria tudo muito pior. Arriscar? Ele ainda não havia decidido.
Ter emoções tão intensas, indestrutiveis, inseparáveis, insanamente sinceras era justo se não fazia diferença? Era justo se ver obrigado a carregar isso sendo tão imperfeito? Se ao menos ele não ferrasse tudo o que toca, sempre assim, sempre um se...

segunda-feira, agosto 24, 2009

Caos

- Estranho... - Murmurou para si mesmo, tragou e com um suspiro deixou a fumaça desenhar o ar a sua frente.

Tudo acontecia depressa novamente, como já havia acontecido antes, muita coisa para pensar e ele não conseguia concentrar-se em nada. Na verdade, ele estava se concentrando em coisas demais.
Ele achou que isso deveria limpar sua mente de muita coisa, todas estas coisas para pensar deveriam sobrepujar outras. Isso não aconteceu, foi e voltou sem dormir... Sua mente insistia em vagar pelos assuntos em sua cabeça como se fossem um só. E não era?

- Estão ligados, mas não podem ser o mesmo assunto. - Concluiu com certeza na voz, somente na voz.

Leu muito, na ultima semana ele tentou fugir para os livros, mas a escolha foi péssima. Os livros que escolheu arrastavam ele para o fundo de seus devaneios e inquietações. Por muitas paginas ele se amaldiçoou por ser curioso, por saber coisas que seria melhor não saber.

- Leão masoquista... - Riu da semelhança, abriu um meio sorriso e tragou novamente... brincou com o cigarro em seus dedos.

Faltavam algumas paginas, depois mais um livro. O ultimo. Achou que sentiria falta, os livros que o prendiam tanto sempre pareciam pequenos demais... Desta vez ele não tinha certeza sobre isso. Talvez fosse melhor um personagem principal diferente, mais...

- Um personagem principal mais.. não, esse parece perfeito. - Rendeu-se, pensou bem sobre o personagem... não havia muito o que mudar.

quarta-feira, agosto 19, 2009

Caos

- É exatamente assim, como uma nevoa espessa que cobre tudo... O sol, as estrelas, as pessoas, as palavras, as emoções... Não é como uma casca, algo que se possa tocar e quebrar. Torna as coisas cinzas, apáticas e sem importância... pelo menos o que ainda pode ser visto. As vezes ela some, as vezes fica mais translucida ou mais densa. - Ele falou sussurrando, dizia para si mesmo. Dizer as coisas em voz alta ajudava a entender o que pensava, organizar.

Isso não era nenhuma novidade para ele, mas ele havia encontrado novas palavras para a descrição. O vazio opressor não era mais um problema, o problema era quando isso passava.

domingo, agosto 16, 2009

Superfície

Algum tempo atrás ele não teria feito isso, concluiu. Ele sentia desprezo, na maior parte do tempo, as pessoas simplesmente irritavam ele. Ele não gostava das palavras, da voz, dos assuntos... não gostava de ter de parecer interessado ou forçar um interesse e simpatia que não tinha. Sobre tudo, ele odiava ser tocado, as pessoas tinham a péssima mania de encostar...

Ele entendia o porque seu desgosto era retribuído tão normalmente, ele era uma pessoa fácil de se odiar. Arrogante, sarcástico, fechado, distante e manipulador eram apenas algumas de suas qualidades menos admiráveis, e ele tinha uma grande lista delas. Isso, no geral, se devia ao fato de não saber, e não querer, tolerar a mesquinhez e ignorância, atributos indispensáveis a grande massa. Somando isso a sua sinceridade fria, insensibilidade para alguns, podia-se concluir sem esforço que ele podia contar nos dedos de uma mão suas amizades.

Porem ele havia se deixado experimentar uma tolerância maior, tentou ignorar mais e julgar menos. Este foi apenas mais um de seus erros, ele sabia agora. Alguns meses foram suficientes para que ele achasse que tinha agido como um tolo, havia se deixado levar, odiava isso. Odiava não se reconhecer em cada uma de suas atitudes, palavras, gestos...


- E não havia sido assim antes? - Perguntou a si mesmo num sussurro.


Ele sabia que sim. Havia, durante muito tempo, cedido muito de sua essência em troca de nada. Se deixou levar e pagou o preço. Odiava arrepender-se das coisas, ele lamentava e arrependia-se muito pouco.


- Tolice... - Admoestou-se e respirou fundo limpando a mente... Deixou a música trazer sentimentos, sensações e tragou do seu cigarro.


Como poucas excecões, a música era uma das poucas coisas capaz de fazê-lo sentir-se plenamente bem, por vezes muito mal, mas sempre fazia-o sentir algo. Sempre havia música, se não em seus ouvidos, ao menos em sua mente. As excecões, raras como a palavra indica, sempre o deixavam fascinando em algum nível. Para ele era fácil divisar estas pessoas, qualquer um capaz de não irrita-lo ou entediá-lo, capaz de causar afeição ou ainda qualquer um capaz de ver alem do que havia em sua superfície, era certamente uma rara exceção.

Essas pessoas eram sempre capazes de lhe clarear os pensamentos, faziam-no sorrir sinceramente e isso acontecia pouco. Mais notável era o fato destas pessoas conseguirem fazê-lo se importar com algo, ele geralmente se importava com poucas coisas, menos ainda com outras pessoas.

No geral as pessoas que tentavam rotulá-lo, e elas quase sempre faziam isso, definiam-no como uma pessoa infeliz. Ele mesmo achou por um tempo que era infeliz, agora o motivo disso se fazia óbvio, abriu mão do que não tinha preço, pelo que não valia o esforço.

Sorriu satisfeito, era ele mesmo novamente. Sentia-se novamente capaz de queimar como o inferno e mesmo assim manter a calma, talvez fosse um pouco mais frio, um pouco mais sombrio, mas isso o deixava satisfeito. Ele tinha mais motivos do que precisava para estar satisfeito, sobretudo por que a tempestade era incessante, convicta, essencialmente bela, poética... não era apenas uma tempestade, era a essência da paixão e da inevitabilidade.

sábado, agosto 15, 2009

Lucidez

Deixou-se embriagar
Insanidade, talvez
Mas isso pouco importava
Cansou-se da lucidez havia muito
O suave perfume sempre embriagava
Agarrava-se a ele, suas roupas
Sempre agarrava-se aos seus sentidos
Traz seus demônios para a superfície
Aqueles olhos percorriam seu corpo
Com indiscrição, cheios de sentimento
Penetrantes... vasculhavam toda sua alma
O toque da pele alva, lábios rubros
A prisão final de seus sentidos
Não lutava, desejava o sabor daquela voz
Seus lábios procuravam sedentos pelo calor
Pelo toque, buscavam tão inebriante perfume
Voraz, suave... por vezes provocante
A respiração ofegava, calma...
Inevitável, o mundo então era outro

Caos

Estava escuro, o céu estava estrelado. Uma oportunidade nova. Ele só se incomodava com o fato de não poder divisar com precisão as linhas do rosto dela, no mais a situação era perfeita... ou quase.

- Isso me perturba mais do que eu gostaria, e sei que te perturba em algum ponto também. Eu não sou, afinal, tão nobre. Eu gostaria de ver meu orgulho regenerado através de minhas mãos também, queria 'dar o troco'... É isso que se passa na superfície de minha mente... Por outro lado, eu sei que nada disso é verdade. A verdade é que eu não sei me perdoar por ter desistido de tantas coisas importantes para mim, como o orgulho, nem sei como reave-las. Talvez seja isso que me perturba. Quando estou aqui, contigo, nada disso importa, mas longe de ti isso vai voltar a me perturbar. - Era isso que ele queria ter dito, mas não conseguiu. Sabia que esse assunto era incomodo, o ar ficava pesado. Ao invés disso, falou apenas:

- Não queria ter de lidar com isso, serei frio ou grosseiro. - Ele resumiu bem o que sentia, abreviou o máximo que pode. Ele sabe que ela entenderia tudo, mas não conseguia se sentir seguro para por estas coisas que a incomodavam em palavras.

Ele sabia que ela podia ver muito alem destas palavras, ela conhecia sua alma... Isso fez sua tristeza aumentar, ao ver como aquilo a incomodava. Ela também lhe explicou seu incomodo de modo sucinto, mas ele também via muito alem das palavras.
Demorou mas compreendeu, a verdadeira beleza se revela quando tudo pode tornar-se frio e complicado, mas mesmo assim se mantém quente, belo e simples. Aquela noite, estrelada, foi perfeita.

quinta-feira, agosto 13, 2009

Garota

E se algo queima aqui
Então sinto seus olhos em mim
Algo sempre queima aqui, sempre tempestade
Que faz meu sangue ferver
Se sinto sua presença
Me fascina e me faz temer
Me agita e me tranquiliza
Se posso sentir sua pele
Meu coração dispara
Meu estomago gela
Se posso tocar seus lábios
Minha mente delira
Minha pele se arrepia
Plenitude e desejo
Você que me faz pensar em nada
Se tenho você comigo
Uma calma explosiva se apodera de mim
Somente uma superfície fria e clareza
Minha pequena garota perdida
Quem é você que me faz sentir eu mesmo?
Que esta sempre aqui...

terça-feira, agosto 11, 2009

Caos

Estava frio, havia chovido um pouco mas o céu estava limpo. As luzes dos postes escondiam muitas estrelas, mas não a lua. Ele olhou para a garota sério e manteve o olhar.

- Que foi meu amor? Esta bravo? - Ela perguntou, notando o olhar dele, de maneira doce.

- Eu amo você. - Ele disse ainda sério.

- Eu amo você meu amor! - Respondeu a garota sorrindo, enquanto jogava os braços sobre os ombros ele e o puxava para um beijo.

Ele retribuiu o beijo, ficaram juntos pelo que pareceram minutos, mas eram sempre horas... O tempo voava. Os vidros embaçados reforçavam a idéia de que não havia mais nada alem disso, nada para ver ou ouvir. Ele olhava nos olhos dela, olhava profundamente, e podia sentir o olhar dela vasculhando sua alma. Puxou-a para um abraço e disse ao seu ouvido:

- Com você o mundo é outro.

segunda-feira, agosto 10, 2009

Torpor

A vida começa a noite, à meia-luz
Suave e delicada como seda, perfumada
Incendeia em instantes, intensidade, desejo
Faz o coração disparar, os sentidos trovejam
O desejo domina, mas é dominado, é conseqüência
Há algo no ar, sublime, presente...
A respiração entre-cortada atravessa o ar gelado
Define um ritmo, arranha e faz pedaços da lógica
Há sentido em tudo, mas não existe mais nada
Da esmeralda, surge tempestade, traz o caos
E a perfeição se faz presente na simplicidade
Um olhar, um toque ou uma palavra e nada mais importa

terça-feira, agosto 04, 2009

Demônio

As notas soavam provocantes, era suave e diabólica
A chuva misturava sua melodia doce a suavidade do frio
Se houvesse chuva...
Pareceria correto desejar o errado
O som passeava pela pele alva, suave seda
De toque enlouquecedor, intenso
Marcava nos doces lábios seu ritmo, sem hesitar
Se houvesse fim, heresia
Alheio a musica o coração batia rápido, tinha pressa
Não, estava excitado, estasiado
Tempestade, mas não chovia
A melodia fez-se ouvir, mas não somente
Invadia os sentidos, percorreu todo o corpo
Deixou seu gosto doce na boca, seu cheiro em tudo
Seu toque arrepiou, marcou como unhas
Se houvesse musica, mas sempre havia
O som feito por um demônio, desejo
Perversivo, sedutor... melodia dominadora
E teria feito tempestade com o olhar, mas foi alem

Poeta

"Em todos os poemas há lobos, exceto em um"
(Jim Morrison)

segunda-feira, agosto 03, 2009

Jardim do Abismo

Passion... Complicity...
Friendship... Confidence...
Fellowship... Sincerity...
Comprehension... Affinity...
Love is inevitable.

domingo, agosto 02, 2009

Caos

- Eu erro a todo instante, não percebe? - Ele disse serio, mas de forma doce, quase desculpando-se.

- Não é verdade, você não é assim. - Ela respondeu beijando-o.

- Mesmo quando te digo ate logo, como hoje, não consigo tirar da cabeça que pode ser adeus. Isso vem muito antes de qualquer palavra tomar forma em minha boca, a iminência de uma despedida desperta meu espírito para toda a incerteza que nos cerca. - Disse olhando para a lua, o céu estava limpo e claro, suas palavras estavam carregadas.

- Não quero pensar nisso agora, não quero pensar nunca. - Ela estava visivelmente triste com isso, mesmo que não a pudesse ver, ele teria certeza que estava.

- Desculpe... - Ele fez uma pausa e disse - Talvez tenho dito isso por que não sei por em palavras o quão perfeito é você estar aqui agora. Parece besteira, mas as vezes eu não caio na real. - Desta vez ele a estava beijando - Você me mostra a todo instante quão perfeitas as coisas podem ser.

- Ta, lhe desculpo desta vez. - Brincou ela enquanto devolvia os beijos.

Algum tempo depois da garota já ter partido ele continuava no mesmo lugar. Já havia visto muitas pessoas de quem gostava partirem, algumas ate o dia seguinte, outras para sempre. Nunca, no entanto, sentira-se como agora. Ascendeu um cigarro, e desviou o olhar do ultimo ponto que a vira, olhava o céu agora... como de costume.
Ele podia sentir o combate, a guerra acontecendo. A perfeição, quase surreal, de estarem junto com a tristeza inominável de vê-la partir. A noção de que deixa-la partir o faria te-la para sempre consigo e a vontade de que ficasse ali sempre.
Não sabia dizer como podia sentir uma felicidade tão plena e uma tristeza tão profunda ao mesmo tempo. O domingo iria amanhecer com alguma reposta? Perguntou-se entrando.

- Ka. - Ele disse quase num sussurro. Esta era a resposta ele sabia.

Relâmpago

Olhava as nuvens carregadas pela janela, apreciava os relâmpagos frequentes sem ouvir nenhum trovão. Não chovia no momento, não para onde olhava, mas havia um tempestade dentro dele. Acendeu um cigarro, as palavras haviam ecoado em sua mente desde cedo. Em algum momento as coisas haveriam de mudar. Sempre ha um ponto de ruptura, mas o que vem depois dele? Por fim, sorriu.

sexta-feira, julho 31, 2009

Torpor

Mesmo que o rubro liquido molhasse minha boca
E seu sabor metálico e pesado invadisse meus sentidos
Permitindo a morte por fim ao meu caminho
Ainda não haveria temor em meu coração
Nem dúvida em meus pensamentos
Se há de se morrer por algo
Que seja então pela melodia prata de suas palavras
Pela seda e pelo doce de seus lábios
Ou ainda, seja pelo seu olhar que me vasculha a alma
Tão indiferente a minha sombra, a frieza de minha superfície
Não importaria honra nem tempo, tão pouco o orgulho vazio
Subjugados seriam pela plenitude de tua beleza
Grandeza de tua alma, elevação que assusta e fascina
Com um sorriso, levado seria
Pela morte escarlate, ou esmeralda
Sem questionar a abreviação de meus passos

quarta-feira, julho 29, 2009

Caos

Reclinado na cadeira, o cálice cheio sobre a mesa e o cigarro na mão, olhos fechados. A musica que escutava explicava-o muito bem, calma e agressiva. Pensava muito, não sabia ao certo sobre o que. Passado, presente ou futuro?
Bebeu um pequeno gole, abriu os olhos. Havia uma foto na tela de seu computador, olho-a demoradamente, desejou saber desenhar... outro pequeno gole, brincou com a fumaça do cigarro como seus pensamentos brincavam com ele.

segunda-feira, julho 27, 2009

Torpor

Tão certo quando a necessidade do erro
Das falsas promessas, dos falsos amores
Ou ainda, das declaracões vazias
É necessária a queda, entregar-se ao abismo
Ver-se em meio as trevas e sorrir
Entender aquilo que lhe invade a alma
Deixar-se cegar para voltar a ver
Pois se não houvesse vivido em cinza
Como teria percebido a sublime beleza
Deste desejo e torpor em esmeralda?
Sem o gosto acre das sombras
Saberia eu saborear tão simples perfeição?
Contemplar dignamente tão elevada existência?

Caos

Acendeu um cigarro, aumentou o som que era quase um sussurro. Começou pensando que as pessoas enclausuravam-se durante a vida toda, peregrinavam, iam aos confins do mundo, tudo para achar a resposta e poderem contemplar a perfeição. Começou concluindo que isso era besteira, as pessoas afastavam-se cada vez mais da resposta em suas buscas...

- Não... - Tragou...

As pessoas precisavam contemplar tudo que havia de imperfeito, incompleto, antes de poder perceber a perfeição. Como, senão tendo com que comprar, poderia alguem perceber a simplicidade de um dia perfeito? Ele apreciava o final de um dia perfeito, simples e intenso. Um dia sem novas perguntas nem respostas.
Se perguntou se deveria sentir tristeza pelo final de um dia assim, concluiu que não. Por mais que demorasse um eternidade para voltar a contemplar um momento assim, poder ver a beleza nos detalhes mais ínfimos, não poderia ficar triste mesmo diante da iminência do próximo dia comum.
Ele enclausurou-se afinal, percorreu os confins de seu mundo. Quando parecia não haver resposta, quando parecia não haver o objeto de seu desejo e procura, quando finalmente desistiu da pergunta a resposta apareceu, cristalina... obvia e fascinante.

domingo, julho 26, 2009

Destino

A noite seria mais fria, calma
A brisa, mais suave
Tudo perderia o sentido e a importância
A musica preencheria o espaço vazio
O perfume, a mão que controla o destino

Caos

Parou, pensou um pouco, suspirou com desanimo. Havia cometido um erro grave na época, perguntou-se a quanto tempo.

- Três? Quatro anos? - Não era importante saber com exatidão, mas ele sabia bem qual era o erro.

Bird and bear... Ele havia dito, com sinceridade, em tempos conturbados. A tempestade veio, alguem não podia aceitar isso. Ele desfez suas palavras, como se fosse possível, transformou sua sinceridade em mentira como se nada fosse. Perdoou o imperdoável, e recebeu pela sua flexibilidade, julgamentos rígidos. Matou e foi morto. Restou a lembrança, e o costume de dizer:

- Certo que sim... - Disse para si mesmo, gostava de repetir isso.

As coisas eram diferentes, desta vez ele sabia que não cometeria o mesmo erro. Desta vez ele não iria viajar, nem atender ligações no meio da noite. Hoje erros do passado não podiam provocar tempestades, ele cansou de provar isso... Precisava ter certeza que podia dizer o que pensava, e disse.

- Bird and bear and hare and fish, Give my love her fondest wish... - Era bobo, ele pensou, mas sincero. Diferente de muito tempo atrás, agora fazia sentido. Quantas coisas não passavam a fazer sentido somente agora...

Sorriu.

sábado, julho 25, 2009

Silêncio

Assim, no silêncio, sem fuga ou distração
Onde sombras ganhavam forma
A falta de respostas inquietava
Abria caminho para antigos vícios
Convidava seus temores para sentarem a mesa
Fazia da fraqueza sua essência
Deturpava o sentido do questionamento
Assim, no silêncio, total, ensurdecedor
As sobras definham, desfazem-se como fumaça
As respostas surgem frias, simples
Antigos vícios perdem o sentido
Os temores tornam-se tolos, ínfimos
A fraqueza fica clara
As perguntas fazem de si verdades
Certos valores permanecem intactos
E talvez seja só
E não reste espaço para os demônios
Que surgiam por traz de sua mente
Nem existam momentos em que estávamos aqui
Sem saber por que
Talvez ele nunca tenha dito as coisas certas
No momento exato
E tudo isso nada significou
Desta vez, sabemos o porque

Caos

Ele olhava para o céu e não via estrelas, isso ajudava a clarear sua mente mas não deu certo desta vez. Estava desconcentrado, um milhão de pensamentos promoviam o caos em sua mente. Dormiu, um sono agitado e leve, acordou tantas vezes com os mesmos pensamentos que desistiu.

quinta-feira, julho 23, 2009

Canção

Ha beleza na tristeza
Que transbordam seus olhos
A sinceridade e a pureza
De um sentimento simples
Da verdade sem enfeites
E dela, fiz minha tristeza
E a canção de seus olhos
Solidificou minha saudade
Nosso eterno desejo
Como um só, mesmo em dois
Ha beleza nos ínfimos detalhes
Que encantam e fascinam
Não me prendem, me libertam
Inundam meus pensamentos
E fazem dos meus sentimentos
Os teus próprios

Sincronia

Palavra, penamento
Gesto, intenção
Sincronia
Pois não ha paz aqui
Se não estiver bem ai

quarta-feira, julho 22, 2009

Som

As vezes cedo demais
Saborear o som sendo afinado
As vezes tarde demais
Contemplar a reverberação
Dar importância pra isso é perda de tempo
Deleitar-se com a logica das notas
Ha beleza, a motivação fala mais alto
Talvez a pureza seja a essência da obscuridade
Viver a culpa e perder a chama da corrupção
Somente a vibração das cordas da guitarra
Seja como for, sem apreciar a sinfonia
Por honra ou bom senso, não haverá final feliz
Que homem não teme o desperdício de seus últimos acordes dissonantes?
Somente aquele que não teme o próprio demônio
E abraça seu mal

terça-feira, julho 21, 2009

Momento

Pintaria você em luz e sombra com uma poesia de fundo, falando de todas as qualidades que te enchem de cor.

Tempo

Ela disse "nobre", ele pensou "só retribuo o que me oferece".

– Será que você vai saber o quanto penso em você... com o meu coração? – Cantou.

Riu e divagou. O tempo estava pesado, ameaçando uma tempestade, o vento soprava forte jogando folhas e poeira sobre ele. Olhando para o nada, absorto em pensamentos, ele não ligou para a selvageria atribuída pelo vento aos seus cabelos.

Ele disse "não sei e não quero ser diferente", ela pensou "nobre".

– Será que você vai saber o quanto penso em você... com o meu coração? – Cantou.

Olhou o horizonte, para as nuvens carregadas que escureceram o céu, que viajavam rápido. Seu espirito estava leve, seus pensamentos estavam calmos. O vento chegou de surpresa, arrastou um sem numero de folhas com a primeira lufada e por ali ficou.

Em algum lugar, alguém pensava no futuro e, nele nada vendo, mantinha-se calmo.

Tempo

Achou graça da resolução, ascendeu um cigarro e ficou observando o movimento.

segunda-feira, julho 20, 2009

Outono

Ela correu, suas botas faziam um som ainda mais alto no beco onde entrou.

– Filho da puta! – Exclamou ao queimar o braço no cano fumegante de uma das suas armas.

Os pentes caíram produzindo um som agudo que logo ficou para trás. Ela podia sentir o coração batendo, havia corrido muito e sua respiração estava descompassada, apesar disso sabia que não o havia despistado – Fácil demais – mas não podia se dar ao luxo de olhar para tras. Inseriu novos pentes as suas pistolas, ouviu um clique mais alto do que esperava da trava de seus carregadores. Parou.

– Cheque mate. – A voz foi fria, desprovida de qualquer emoção.

– … – Ela estava morta, não havia o que dizer. Tentou por um sorriso nos lábios em seu ultimo segundo, não pode.

Sete disparos foram ouvidos. Sete capsulas retiniram contra a parede, ainda soltando fumaça. Seis balas trespassaram a cabeça da garota, seus cabelos prateados pareceram flutuar por uma eternidade. Um projetil estilhaçou o seu maxilar. Logo apos o baque surdo, o sangue alcançou os sapatos do homem.

– Tsc... Gosto mais do seu cabelo vermelho. – Tentou achar graça, não entendia o conceito ainda, e o cabelo da moca era originalmente vermelho... a piada não teria graça de qualquer forma.

O noticiário notificou um latrocínio, ninguém questionou os múltiplos disparos.

Caos

– Você queria mesmo ser poeta? – Perguntou ela, afundando o rosto no travesseiro.

– Sim, mas eu morreria de fome. – Ele respondeu com ar divertido, enquanto tirava o cabelo do rosto.

– Bobo. – Ela retrucou enquanto puxava o braço dele.

O vento forte sibilava de modo sombrio, logo o som da chuva se fez ouvir. Estava quente, o cheiro da chuva invadiu todo o lugar com rapidez. Tão logo quanto a chuva começou, os dois riram sem dizer nada.

– Viajantes na tempestade, pode ser o próximo título. – Deixou o devaneio virar som.

– Eu gosto, sobre o que será? – Perguntou com a voz ainda abafada pelo travesseiro.

– Hum... não sei. Que tal se for sobre pessoas que foram jogadas nesse mundo, como atores sozinhos? – Perguntou olhando para ela, admirando a pele branca e macia.

– Perfeito. – Ela respondeu virando o rosto e olhando para ele, o sorriso que ele viu então limpou sua alma.

– Riders on the storm... – cantou.

A chuva seguiu forte, indiferente as coincidências que provocava. Espalhou o caos pelo resto da noite, mas não foi mais ouvida ali.

sábado, julho 18, 2009

Sentido

Das ultimas coisas que me desfiz
Então me vi perguntando quem era
Todas tiveram seu valor em algum momento
Quando a resposta não veio por mim
Mas, assim em um instante, vi-me sem entender seus significados
Busquei fora a resposta
Assim todo o caminho fez-se verde e brilhante
Como nunca antes, eu não tinha idéia
E, mesmo embrigado pela bela visão, procurei por lembranças
Não houve vazio nem tristeza, perdi-me no cinza
Contudo não pude me agarrar a elas, não as queria como antes
E do cinza contemplei todos os sons que me cercavam
E não vi sentido no que havia percorrido
Não os sons do horizonte, mas sim os do local onde estava
E tudo pareceu ter sido errado
Tudo era pálido, mas estava longe de ser frio
Dei-me conta, esta era mais uma lembrança
Queria cores, um sentido talvez
A doce mania de agarrar o passado
Mas não pude chegar a lugar nenhum
Deixei-a escorrer por entre meus dedos e molhar o chão
A pergunta pareceu desaparecer, não precisava de resposta
Talvez esse fosse o ultimo aspecto que sobrasse intacto
Havia um longo caminho a frente
E o som disto quebrando levou consigo os conceitos
Sem conceitos, cor ou planos
A melodia da guitarra pareceu pura como nunca
Me envolveu e fascinou

sexta-feira, julho 17, 2009

Caos

– Tudo certo? – Perguntou olhando o amigo.

– Existe isso? Tudo estar certo em algum momento? – Respondeu o outro tragando o cigarro e sorrindo de modo indefinível.

– Alguma coisa que queira dizer? Você me chamou aqui, achei que queria falar sobre algo. – Continuou o primeiro, com a mesma neutralidade de sempre.

– Nada de mais, não estava fazendo nada e você também... A proposito, na noite anterior, aqui, alguem me disse que as coisas não precisam acabar sempre no caos. Você acredita nisso? – Jogou no ar as palavras misturadas a fumaça do seu cigarro, fazendo um ar de mistério forçado.

– Com caos, você quer dizer o que exatamente? E quem seria esse alguem? – Perguntou sem se importar com a fumaça que o vento arrastava em sua direção.

– Caos, caos... ausência de um padrão compreensível... mas relaxe, não vou começar meu monologo habitual sobre isso. – Riu com sinceridade.

– Hum... Pode, eu acho. – Ele não havia entendido a pergunta, ficou claro. Mas ele não se preocupava em disfarçar isso, era sempre assim... Pouco importava entender o que as frases do amigo queriam dizer, bastava entender o que o amigo pensava, e isso ele sempre entendia.

– Já te disse que nunca houve uma conversa nossa que você tenha dito algo de fato? Você é a pessoa que diz mais, falando menos, que conheço. – Retorquiu tragando novamente, depois tomou um gole do copo ao lado e voltou a olhar as estrelas.

– Eu me esforço, anos de pratica! – Respondeu com um orgulho exagerado, ambos riram.

– Não, não acredito que sua falta de opinião seja pratica, você é mestre nisso. Certamente nasceu com esse dom. Passa seu copo, a garrafa esta pela metade ainda e você não me fara beber sozinho!

– Não cara, pra mim deu.

O outro sabia que seu amigo não iria beber mais, ele não mudava nunca, e talvez fosse esse o motivo de uma amizade tao clara e sincera. Ele não conseguia corromper seu amigo, e seu amigo não conseguia torna-lo mais neutro, nem melhor. Continuou divagando enquanto olhava os desenhos da fumaça de seu cigarro e ouvia o amigo falar sobre coisas mundanas, tinha tomado a decisão certa em não ter vindo sozinho, teve certeza.

Desprezo

Uma multidão não é companhia
Repugnante pode ser tornar com facilidade
Quando, como verdade, é dito que o certo é sempre justo
E me distanciou por me desejar como semelhante
Me dizendo que certos vinhos não devem ser provados
Todos os venenos matam
Certos frutos não se podem ser apreciados
Minha vontade deveria ser limitadas as alheias
Meu desejo mensurado e comedido
Minha alma amordaçada e cabisbaixa
Respondi então, desprezo
Meu egoismo me consome, e não há meio termo a multidão
Ei de deixar minhas paixões cavalgarem selvagens
Consumir-me-ao com suas chamas
Haverão de deturpar minha honra
Por outras vezes, complementar meu código
Mas nunca irão tirar o brilho dos meus olhos
Nem me causar apatia
Uma multidão que não desejo
E com ela repudio seus dogmas
E se ei de queimar no inferno que eu mesmo criei, pois outro não existe
Ei de me consumir com um sorriso nos lábios

Jardim do Abismo

"Há venenos que valem seu risco."

terça-feira, julho 14, 2009

Carvalho

Qual a palavra e qual o comando que separa os homens do paraíso?
E qual deles mantém o medo em suas almas?
Mas não me importarei se for absolvido ou condenado!
Tratarei de lutar contra os sentimentos que me prendem,
Com suas correntes de pânico
E com a bebida, destilada do sangue virgem, que me entorpece...
No paraíso dos Imortais poderei perecer
Quando, da torre primaveril ou dos salões dos mortos,
Arrancar, com toda a minha força,
Se preciso, com a minha vida, um sorriso teu.
Quando minha alma gelar, dos olhos do vigilante do norte
Saberei dos teus pensamentos nos reinos do sul.
Mas se há aqueles que estão descontentes,
Mesmo sob o sereno brilho das estrelas,
E clamam as brisas costeiras, temendo a tempestade e adorando o Sol.
Lhes darei os sombrios ventos do leste,
Que virao através do mar com a sua legião de espíritos do fogo.
Transformarão seus verdes vales em lagos sangrentos
Onde, ao contrário das torres livres do paraíso,
Ofuscarão seus frágeis olhos com a imagem do portal negro.
Nos jardins secretos de minha casa
Plantarei para você um carvalho
Mesmo sabendo que não há água, somente sangue...

Profundidade

A própria imagem do abismo
Fascinante como caminhos errados...
O som da própria mortalidade
Alem do certo e do errado
Não o destino, mas o que comanda e gera o destino
A personificação da morte ou da vida, em uma mesma essência
Prisão dos meus sentidos
O caos em minha logica
Indefinível como o tempo
Perverso e puro
Suave como a brisa
O mais puro gosto do desejo

segunda-feira, julho 13, 2009

Desire

Deverá, este deserto, em breve consumir minha alma
Em breve, silenciar meus lábios
Assim como esta tempestade silencia meu rosto
Toma minhas lagrimas como sendo suas
Haverá luz em meus olhos na próxima aurora?

Imortalidade, um momento para sempre, para a eternidade

Deverá, esta noite, silenciar o eco dos meus passos
Em breve, consumir minha dor
Serão minhas ultimas palavras, linhas mal escritas
Irrompendo do que me tornei?
Repetirei eu milhares de mentiras
E haverei de tornar minha a culpa pela insensatez da fuga

You had my best
Outside of my death way
Unless I were fed it, my only way

Jardim do Abismo

"E não ha flor mais bela no jardim do abismo, senão aquela que possui a qualidade da morte em seu perfume."

Caos

Ela olhou para o rosto dele e perguntou:

– Você se importa?

Ele desviou o olhar para as estrelas, não queria tentar sustentar o olhar dela. Após alguns instantes respondeu:

– Não... na verdade não, eu não me importo.

Ela tirou uma mecha de cabelo, que o vento jogou em sua face, e sorriu. Ele ainda era frio e ainda era distante, como se não pertencesse aquele lugar, mas ela não se importava com isso...

Cerâmica

– Não! – ele disse com veemência. Apoiando-se sobre sua bengala ele aproximou-se da mesa que exalava aquele doce perfume de madeira nobre.
– Como assim 'não'? – Ironizou o homem sentado a maior cadeira da sala. – Eu não vou aceitar uma resposta como essa, principalmente vinda de você!

O homem sentou-se, sua bengala tornava-se extremamente desconfortável em situações como esta, pigarreou e perguntou:

– O que você espera de mim, neste caso?

O homem sentado a maior cadeira sorriu, não um sorriso bonito, mas ao menos triunfante:

– Eu espero lealdade absoluta!

O outro voltou a ficar de pé, com a a ajuda de sua bengala. Ele havia conseguido, o maldito estúpido havia mordido a isca, mas não se permitiu sorrir, ainda não...

Outono

Enquanto ela corria suas botas pesadas produziam um som metálico alto, mesmo com todo o barulho de uma grande cidade ao seu redor. Ela já não sabia o que odiava mais neste momento, suas botas barulhentas ou seu cabelo prateado, brilhante.

- Merda! Eu nunca vou conseguir me misturar à multidão!

Um estampido alto, calibre 45, ela poderia reconhecer este som em qualquer lugar. E pronto, não havia mais a multidão tão normal aquele horário, havia apenas o caos.
Era a hora de fazer o jogo de seu perseguidor, ela sacou suas duas pistolas...

Caos

Ele abriu a porta, o vento frio trespassou seu corpo trazendo consigo as finas gotas de chuva que a pouco começara. Era uma noite fria, a lua brilhava escondia por detrás das nuvens carregadas que dominavam o céu desde cedo, era uma noite que trazia consigo o torpor que ele procurava.

– Proibida... – Disse ele em voz alta.

Eis a palavra que insistia em não sair de sua cabeça, era a definição do todo. Ele caminhou, deixou a chuva fina molhar seu rosto, escorrer pela sua face, seu corpo tremia, mas ele não sentia frio. Ele sabia onde iria, mas não planejava isso, apenas era arrastado.

A chuva parou há algum tempo, o céu limpava rapidamente, ele já podia ver as estrelas quando chegou. Acendeu um cigarro, e observou a fumaça desenhar o caos a sua frente.

– Caos... Tudo começa e termina no mesmo ponto. – Ele disse olhando para o céu, como se dissesse as estrelas que aumentavam em numero.
– Não... não precisa ser assim. – Disse uma voz feminina, doce e suave.

Ele não se surpreendeu em ouvir esta voz aqui, não esta noite. Sem se virar para ela, ele tragou mais uma vez, seu cigarro sempre adquiria um gosto horrível na presença dela, jogou-o no chão, enquanto ouvia o som dos tênis dela no cascalho. Virou para ela, estava ao seu lado, olhando para as mesmas estrelas que o faziam ficar vazio, frio.

– Sabia que você estaria aqui. – Ela disse sorrindo, com um ar divertido.
– Certo que sim. – Ele respondeu olhando a face dela, levemente iluminada. Seus demônios acordaram, ele não tentou impedir, era inútil... Ela sempre trazia a tempestade.
– Adoro isso. – Disse ela virando-se para ele, olhando-o nos olhos. Seu rosto exibia um sorriso sincero, seus olhos exibiam um olhar devastador, quase insustentável.

Ele não disse nada, sabia do que ela falava, passou seu braco pela cintura dela e voltou a olhar para o céu. Nada mais foi dito esta noite, não era preciso.