sexta-feira, julho 17, 2009

Caos

– Tudo certo? – Perguntou olhando o amigo.

– Existe isso? Tudo estar certo em algum momento? – Respondeu o outro tragando o cigarro e sorrindo de modo indefinível.

– Alguma coisa que queira dizer? Você me chamou aqui, achei que queria falar sobre algo. – Continuou o primeiro, com a mesma neutralidade de sempre.

– Nada de mais, não estava fazendo nada e você também... A proposito, na noite anterior, aqui, alguem me disse que as coisas não precisam acabar sempre no caos. Você acredita nisso? – Jogou no ar as palavras misturadas a fumaça do seu cigarro, fazendo um ar de mistério forçado.

– Com caos, você quer dizer o que exatamente? E quem seria esse alguem? – Perguntou sem se importar com a fumaça que o vento arrastava em sua direção.

– Caos, caos... ausência de um padrão compreensível... mas relaxe, não vou começar meu monologo habitual sobre isso. – Riu com sinceridade.

– Hum... Pode, eu acho. – Ele não havia entendido a pergunta, ficou claro. Mas ele não se preocupava em disfarçar isso, era sempre assim... Pouco importava entender o que as frases do amigo queriam dizer, bastava entender o que o amigo pensava, e isso ele sempre entendia.

– Já te disse que nunca houve uma conversa nossa que você tenha dito algo de fato? Você é a pessoa que diz mais, falando menos, que conheço. – Retorquiu tragando novamente, depois tomou um gole do copo ao lado e voltou a olhar as estrelas.

– Eu me esforço, anos de pratica! – Respondeu com um orgulho exagerado, ambos riram.

– Não, não acredito que sua falta de opinião seja pratica, você é mestre nisso. Certamente nasceu com esse dom. Passa seu copo, a garrafa esta pela metade ainda e você não me fara beber sozinho!

– Não cara, pra mim deu.

O outro sabia que seu amigo não iria beber mais, ele não mudava nunca, e talvez fosse esse o motivo de uma amizade tao clara e sincera. Ele não conseguia corromper seu amigo, e seu amigo não conseguia torna-lo mais neutro, nem melhor. Continuou divagando enquanto olhava os desenhos da fumaça de seu cigarro e ouvia o amigo falar sobre coisas mundanas, tinha tomado a decisão certa em não ter vindo sozinho, teve certeza.

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